terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

SOMBRAS DA NOITE - DARK SHADOWS


NOTA: 5.
- Meu nome é Barnabas Collins. Dois séculos atrás, eu fiz de Collinwood a minha casa... até que uma bruxa invejosa me amaldiçoou, me condenando à sombras pra sempre.

Seguindo o padrão que Tim Burton adotou para seus filmes, o que temos aqui é uma produção muito caprichada, com figurinos, cenários, fotografia e efeitos especiais quase impecáveis. O que não temos como costumamos a ver em seus filmes, é uma história interessante que nos leva a algum lugar. Parece um filme de Tim Burton em que ele dirigiu por controle remoto. Parece que falta alguma coisa para dizermos que é um filme dele e não de alguém copiando seu visual.
O filme até começa bem, mostrando cenas interessantes sobre a família Collins na América. Uma pena que o filme começa gerando uma expectativa na plateia para as próximas cenas e depois parece incapaz de nos satisfazer. Mais um caso onde o melhor aparece logo no início, e nada aparece para sequer igualar. Barnabas (Johnny Depp) desperta a paixão de Angelique (Eva Green), mas acaba realmente se apaixonando por Josette (Bella Heathcote). 
Para seu azar, Angelique é uma bruxa que depois de rejeitada fica sedenta por vingança. Primeiro ela faz com que Josette se jogue de um precipício. Barnabas ainda tentar salvar a moça, mas incapaz, consegue apenas assistir sua morte. Depois, Angelique o transforma num vampiro e convence o povoado a tranca-lo acorrentando dentro de um caixão onde fica aprisionado por 190 anos. Pra ser mais preciso, ele acorda em 1972.
Barnabas volta para Collinwood para encontrar seu antigo lar, que na sua época era um marco da cidade, em ruínas. A herança de sua família foi dilapidada, o comércio de peixe deles está quase falido. Ele encontra a família, liderada por Elizabeth Collins (Michelle Pfeifer) e faz um acordo com ela para tentar levantar novamente a família. Tanto em nome quanto nos negócios, mas para isso ele deve enfrentar novamente Angelique que controla agora todo o mercado da venda de peixes. E que mesmo depois de tanto tempo ainda morre de amores por ele.
Os outros habitantes da casa incluem Carolyn (Chloe Grace Moretz); o irmão sanguessuga de Elizabeth, Roger; que tem um filho que consegue ser mais estranho que Barnabas; e uma psiquiatra Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter). O mordomo da família é Loomis (Jackie Earle Haley), que serve o jantar de todos. Jantar que é um dos eventos mais estranhos do filme. 
Barnabas tem uma pele tão branca quanto um vampiro enterrado por 190 anos deve ter. Com longos dedos e unhas, ele trata todo mundo com uma cortesia digna de séculos anteriores. Todo o seu personagem é construída em cima de uma caricatura do que é um vampiro, e provavelmente não deveria ser diferente. Mas este tipo de personagem precisa de um contraponto, que seriam as pessoas normais, para funcionar. Como não temos nenhum personagem normal, o vampiro fica sendo apenas mais um de uma alegoria.
A única graça do filme está em assistir Barnabas reagir às modernidades dos anos 1970. Especialmente em relação à cultura pop. Em determinado momento, ele declara que Alice Cooper é "a mulher mais feia que já viu". São pequenas graças, poré, e que infelizmente não salvam o filme. Em sua oitava colaboração juntos, diretor e ator já realizaram trabalhos bem melhores. Aqui, se trata de um filme que até começa bem, mas imediatamente vai perdendo sua força.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O DOBRO OU NADA - LAY THE FAVORITE


NOTA: 3.
- Era pra você me trazer sorte.

O diretor Stephen Frears parece ter perdido um pouco a mão depois de ser indicado (pela segunda vez) ao Oscar pelo filme A rainha, com Helen Mirren. Depois disso, não vinha fazendo nada que pudesse despertar o interesse, mas este filme realmente destoa de todo o resto. Simplesmente ele entrega uma comédia que não tem graça alguma e que se mostra um tremendo desperdício de um elenco talentoso.
Baseada em uma fatos da vida de Beth, que escreveu este livro que foi adaptado pelo mesmo roteirista de Alta fidelidade (também dirigido por Stephen Frears), acompanhamos a história dessa ingênua garota que trabalhava fazendo danças particulares e que quer dar um novo rumo pra sua vida. Seu plano é se mudar para Las Vegas e conseguir um emprego como garçonete em um cassino. Claro que o plano não funciona como ela imaginou (quando é que funciona?) e ela acaba indo trabalhar numa agência de apostas.
Aí temos tudo que um filme (acha que) deve ter. Romance e tudo o mais. O problema é que nada realmente funciona. Seja a comédia que não faz rir, os bastidores da agência de apostas ou mesmo o tal romance. E até mesmo atores que costumam fazer ótimos trabalhos como Rebecca Hall (excelente em Atração perigosa), não conseguem convencer ou agradar como deveriam.
Completando o elenco, temos Bruce Willis como seu chefe, que se veste sempre com bermudas e camisas meio que ridículas quase arrancam uma risada. Catherine Zeta-Jones interpreta sua mulher altamente materialista e extremamente ciumenta; Vince Vaughn faz uma pequena participação como um rival de Willis e mostra o desperdício de um ator engraçado. Para completar o elenco, Joshua Jackson, único que parece adequado no filme, interpreta o bom moço que pode dar uma nova vida para Beth.
Eu não entendo praticamente nada sobre apostas, e o filme não oferece nenhuma explicação que me faça entender mais do que o pouco que eu já sabia. Parece feito por pessoas acostumadas com apostas e para pessoas que costumam apostar. Os diálogos são construídos em cima de jargões e em vários momentos do filme fica complicado de acompanhar exatamente o que eles estão fazendo ou falando.
Beth rapidamente começa a ficar fluente nos jargões e em fazer dinheiro. Se apaixona pelo chefe que é obrigado pela esposa a mandá-la embora. Ela se muda para Nova York com o bom sujeito (Jackson) para fazer uma vida nova e acaba fazendo apostas ilegais. Em algum momento os federais parecem se envolver no esquema, mas o problema é que tudo parece melhor e mais interessante enquanto escrevo do que realmente é no filme. 
O final envolve uma aposta que pode resolver os problemas. O que é óbvio demais para ser deixado de fora. Afinal, tudo acontece de maneira tão óbvia que podemos antever com muitos minutos de antecedência. E  na realidade, nenhum dos atores consegue se salvar em meio a personagens mal desenhados e diálogos que não merecem atenção. Desculpem o trocadilho, mas por ser um filme sobre apostas, o próprio filme poderia ter feito uma aposta mais alta e tentado alguma coisa diferente. Qualquer coisa diferente já seria um começo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

CINCO ANOS DE NOIVADO - THE FIVE-YEAR ENGAGEMENT


NOTA: 8.
- Este é o seu casamento. Você só tem alguns desses.

O filme começa com um pedido de casamento. Ele propõe e ela aceita, logo o segundo passo é casar, certo? E se esse casamento não sai durante cinco anos? Como fica o relacionamento entre os dois? Amor é uma bagunça e cria reviravoltas em nossas vidas. O filme mostra como um casal, mesmo bem intencionado e realmente apaixonado, pode ter a vida virada de cabeça de baixo quando os planos não acontecem conforme esperado. Eles tem seus momentos, pelo menos bons o suficiente para nos manter torcendo por eles durante todo o filme.
Grande parte dessa torcida que temos, é por causa da escolha mais que acertada do casal protagonista. O elenco é o coração do filme. Ele é Tom (Jason Segel), um sous chef de um restaurante em São Francisco. Ela é Violet (Emily Blunt), uma estudante de psicologia que analisa suas opções para o futuro, pois está terminando a sua faculdade.
Violet consegue uma bolsa de doutorado onde vai participar de uma pesquisa liderada por um charmoso (de certa forma) Prof. Childs (Rhys Ifans). Seus planos de casamento vão então sendo adiados uma vez após a outra. Seja pela mudança da cidade, um outro casamento que deve ser realizado com mais urgência e alguns funerais que vão acontecendo pelo filme. Além disso, eles se mudam pra Michigan, com Tom abandonando sua promissora carreira culinária para bancar o noivo da proeminente estudante que a apoia.
O filme tem muita coisa para entreter as plateias. Estudando com Violet, temos todo um grupo diversificado e muito divertido. Roubando a cena quando aparece, temos ainda Alison Brie como a irmã de Violet. São personagens que podem parecer estranhos mas que conquistam fácil por garantirem boas risadas. Talvez parte do crédito deva ir para o produtor Judd Apatow que está acostumado a criar esse personagens tão adoráveis.
Fora da parte divertida, acompanhamos como eles podem tentar acompanhar suas ambições profissionais e amorosas, sendo que as ambições amorosas de ambos aqui realmente não parecem ser compatíveis. Você pode torcer para um ou para outro (especialmente se for feminista), mas realmente o que parece impossível é não torcer para os dois. Isso porque é quase impossível não simpatizar por ambos, seja individualmente ou em conjunto.
O filme segue o padrão que Apatow está imprimindo nos cinemas de fazer um cinema de comédia agradável e sem apelações. Não há apelação nas cenas, no uso de palavrões, de nudez desnecessária ou de violência. A única cena com luta é realizada em ruas congeladas e acaba sendo hilária. Os protagonistas já tinham aparecido antes em As aventuras de Gulliver, mas finalmente fazem um filme que valha a pena mencionar. Sem querer estragar uma surpresa do filme, mas o que temos aqui é um resultado bem divertido.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MIB: HOMENS DE PRETO - MEN IN BLACK


NOTA: 8.
- Vai viver com a identidade que lhe dermos, comer o que dissermos e viver onde dissermos. Você é um rumor, reconhecido apenas como um déjà vu. Você não é mais parte do sistema, está acima do sistema. 

Há pouco tivemos a terceira parte desta série de filmes. E tem um motivo para termos continuações aqui ao contrário do que acontece com outros filmes que claramente não deveriam sequer ter tido uma primeira parte. MiB não é um filme impecável, mas com certeza tem muitos mais acertos que erros. E melhor ainda, é um filme de ficção científica dos mais divertidos, inteligentes e com o melhor visual que o cinema fabricou em muitos e muitos anos.
Tem uma cena que dá o tom do filme, que é quando os agentes olham para uma enorme tela onde observam inúmeros alienígenas que estão sendo vigiados. Entre eles, estão Sylvester Stallone, Steven Spielberg, George Lucas, Danny Devito entre outros. Isso nos mostra tanto que eles (os aliens) estão entre nós e não conseguimos perceber, quanto que o filme claramente não tem intenção nenhuma em se levar a sério. E pra deixar claro, acrescento que isso não é demérito algum.
Digo isso porque muitos filmes com alto orçamento acreditam que devam falar de heróis (se bem que com esse tipo orçamento geralmente agregam um "super" na frente). Não é esse o caso. Se fosse para ser levado a sério, perderia todo o seu encanto. Só o que temos aqui é uma dupla que trabalha em uma divisão secreta não ligada ao governo que cuida de assuntos ligados a alienígenas. Não precisam ser ligados ao governo porque trazem patentes de outros planetas que geram lucros grandes o suficiente para manter toda a operação.
K (Tommy Lee Jones) é o veterano, um dos fundadores da agência e que não dá um mísero sorriso durante todo o filme. Jones tem uma expressão séria em quase todos os filmes, mas aqui ele caprichou. O líder da agência é Zed (Rip Torn). No início do filme, um agente se aposenta, e K passa a procurar um substituto, que virá a ser o agente J (Will Smith). 
O perigo contra o qual eles tem que lutar, é a ameaça de destruição do nosso planeta. Um alienígena veio para a Terra, se disfarçou como um humano e matou um importante embaixador. A menos que recebam o que querem, eles vão acabar com o planeta inteiro. Nem sempre é fácil encontrar um alienígena, pois devemos lembrar que eles podem se parecer com qualquer um. E isso graças a um excelente trabalho de efeitos especiais realizado pela ILM.
Outros grandes blockbusters estrearam no mesmo ano, como Con air, um dos piores Batmans que já existiu em qualquer mídia possível (Batman & Robin) entre outros, mas há uma diferença entre esses filmes: MiB sabe que é bobo e se aproveita disso. Ele deixa de seguir as convenções cinematográficas e apenas leva o filme de forma a deixá-lo engraçado. E tantos anos depois de seu lançamento, ainda continua me divertindo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ROCK OF AGES


NOTA: 6.
- Este lugar está prestes a se tornar um mar de suor, música ensurdecedora e vômito.

Este filme tem a intenção de voltar aos bons e velhos do Rock, antes que tudo fosse transformado apenas em negócios. O que acontece na realidade, é que o filme parece um extendido episódio de Glee mas com elenco diferente. Apesar de entreter o suficiente para não fazer com que se desista de assistirmos, é um filme meio sem graça que ainda por cima deixa grandes astros com papéis mais interessantes do que os dos protagonistas em segundo plano.
A dupla sem sal de adolescentes que cantam aqui são Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough), que se encontram dessa forma inesperada e apaixonada que somente acontece nos cinemas. Ele é meio metaleiro (apesar de não cantar nada nem parecido com isso) e ela é a garota meio country que vem do interior para tentar a carreira na grande cidade. Ele consegue um emprego para ela e começam a namorar.
O bar onde ele consegue o emprego pertence a Dennis Dupree (Alec Baldwin), que tem Lonny (Russel Brand) como ajudante. Uma espécie de templo do Rock onde Stacee Jackson (Tom Cruise), a grande estrela do Rock no filme, começou a carreira. O lugar já viu dias melhores, mas ainda se mantém do jeito que pode contando com seus fãs. Além da crise, há também a puritana Patricia Withmore (Catherine Zeta-Jones), mulher do prefeito (Bryan Cranston), que aparece constantemente na televisão fazendo campanhas contra o Rock.
Cruise e Zeta-Jones são, com toda a certeza, as melhores coisas do filme. Ele é uma espécie de Axl Rose (vocalista da banda Guns 'n Roses) interpretado com vigor pelo astro. Ao mesmo tempo, quando necessário, há uma forma melancólica na forma de andar e dar entrevistas que lembra um pouco o jeito letárgico de Kurt Cobain (vocalista do Nirvana). Já Zeta-Jones mostra uma paixão que nos faz lamentar que sua personagem seja tão pouco aproveitada.
O filme é dirigido por Adam Sahnkman, que dirigiu o ótimo Hairspray, mas que não consegue manter o ritmo em seu novo filme. Pra começar, é muito estranho que nesse mundo de Rock 'n Roll, só vejamos pessoas brancas quase o tempo todo. O único papel com etnia diferente é a dona de uma boate de striptease interpretada por May J. Blige.
Outro grave erro do diretor é que nenhuma das músicas parece soar como um verdadeiro Rock, e sim uma versão pop para agradar adolescentes. Nenhum dos personagens, com exceção de Stacee, sequer se comporta como um roqueiro se comportaria. Não há paixão, não há luxúria ou o calor que um filme desse deveria ter. De sexo, drogas e Rock 'n Roll, não sobrou praticamente nada e o que vemos é uma versão juvenil que parece estar sendo encenada em um parque de diversão. Fora a trilha sonora que também deixa muito a desejar.
Todas as músicas são cantadas pelos próprios atores, mas não dão nenhum impacto ao filme. Quem consegue levantar mesmo o filme é a dupla interpretada por Brand e Baldwin, e o que nos impede de parar de assistir o filme é um Tom Cruise inspirado.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A HORA MAIS ESCURA - ZERO DARK THIRTY


NOTA: 7.
- Bin Laden está lá dentro, e vocês vão matá-lo para mim.

Depois de muitos anos do ataque contra as Torres Gêmeas, o terrorista responsável pelo atentado, Osama Bin Laden, finalmente foi encontrado e assassinado pelo governo americano. Isso é um fato conhecido por todo mundo, mas ainda assim o filme tenta ser um suspense como se ninguém soubesse o resultado final. Assim como acompanhamos longas cenas de tortura e logo depois acompanhamos um discurso de Obama dizendo que não há torturas por parte dos americanos.
O filme é estrelado por uma das atrizes do momento, Jessica Chastain na pele de Maya, uma espécie de predadora que geralmente consegue o quer. É dela que parte a ideia que talvez Bin Laden não esteja escondido em uma caverna, mas sim num lugar mais acessível onde jamais imaginariam. Ela passa o filme todo com um olhar que não diz muita coisa. Seja quando seu diálogo parece irritado, seu rosto mostra as mesmas expressões que ela apresenta quando está calma. Chastain é versátil, muito talentosa e faz um ótimo trabalho, mas talvez pudesse haver mais a se ver aqui.
A caçada não é rápida, seja por tempo (mais de uma década), ou pela duração do filme. O que acompanhamos por cerca de duas horas ou mais, é um grupo de pessoas atrás de computadores e muito raramente em algum trabalho de campo. Todos os americanos consideram óbvio que Bin Laden não pode estar escondido à vista de todos, e Maya sozinha acredita que essa é a beleza de seu plano. Mas todo o filme é apenas para mostrar o quanto custa, moralmente, uma vingança.
Claro que é difícil para mim julgar o que custou moralmente para eles. Ao assistir as cenas de tortura, fica a minha impressão do que considero moralmente errado. De onde eles ultrapassaram a linha do certo e errado e a vingança deixou de ser justificada para ser apenas tortura onde qualquer coisa é permitida desde que o resultado final seja atingindo. Fico ainda pensando nas duras críticas que o ciclista Lance Armstrong tem recebido por ter usado doping hoje em dia, e quão hipócrita se pode ser se compararmos as situações. Não é o resultado final que importa?
Não está perto de ser um filme tão bom quanto o filme anterior da diretora Kathryn Bigelow (Guerra ao terror), mas ainda assim é um filme interessante com um um roteiro que foge das minhas expectativas. No final, temos uma interessante cena de ação que o filme constrói ao longo de sua duração. Talvez pudesse haver um contraponto onde pudéssemos acompanhar algo do outro lado, que gera uma curiosidade no meu ponto de vista, mas não é assim que as coisas funcionam.
O que realmente acontece no final, é o que parece despertar o fascínio de quem está disposto a assistir o filme. Desvendar como realmente aconteceu a operação que executou o terrorista, mas apesar de até vermos seu rosto ensanguentado por alguns momentos, a verdade é que a ação é quase toda num escuro brutal e fica pouco clara de se ver. E o filme se resume a isso. E sequer temos personagens bens construídos com objetivos que realmente conhecemos. É bom filme, mas não passa disso.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

OS MERCENÁRIOS 2 - THE EXPENDABLES 2


NOTA: 6.
- Eu sabia que um dia você poderia me pagar o que deve. Hoje é esse dia.

A fórmula do primeiro filme era simples: pegar vários astros de ação, muitos estão perto da aposentaria, e colocá-los todos juntos na tela. Por isso, o que parece mais óbvio é fazer uma continuação aumentando a quantidade de nomes que vemos em diversos filmes de ação. Liderados por Stallone, que ganha destaque no cartaz, temos um sangue novo interpretado por Liam Hemsworth e muito sangue velho aumentando o bando, com Schwarzenegger e Bruce Willis com mais coisas para fazer do que no primeiro. 
O mais curioso, é que a fórmula realmente funciona. Funcionou no primeiro e continua funcionando aqui. Claro que não estou falando que se trata de uma obra-prima do cinema, mas sim que o filme acaba sendo divertido e servindo seus propósitos. Aqui, eles se superam em quase todos os aspectos, e seguem a mesma linha que traçaram no filme anterior. Exceto que agora o vilão é Vilain (Jean-Claude Van Damme), cujo nome é muito similar a "vilão" em inglês.
Segundo divulgaram, Stallone não quis dirigir o filme, coisa que fez no primeiro, para se dedicar mais ao roteiro do filme. O que se pode esperar, porém, não é um resultado melhor do que o primeiro. E olhe que o resultado do primeiro já não era nada de excepcional. Os diálogos não fluem necessariamente como deveriam e o humor não funciona. É então que entra o grande trunfo na manga para salvar o filme: Chuck Norris.
Em determinado momento, as pessoas no filme parecem esquecer que este filme, em sua essência, funciona como uma comédia. Ou pelo menos deveria funcionar como uma, pois senão o resultado é apenas embaraçoso. Por isso que a presença de Norris serve para fazer com que deixemos qualquer tentativa de levarmos o filme com qualquer nível de seriedade de lado e aproveitemos o filme como uma espécie de comédia com cenas de ação. Seja lá quanto Norris tenha recebido por este filme, mas não deve ter sido o suficiente.
Se o roteiro não apresenta melhora, a decisão de entregar a direção do filme para Simon West (Con air) faz com que tenhamos uma melhora nesse sentido. Ele sabe o que deu certo no anterior, e mantém praticamente a mesma linha nesse novo. A exceção está mesmo nas cenas de ação que são um pouco melhores apesar das exageradas explosões.
O filme termina com uma desnecessária luta entre Stallone e Van Damme, mas acredito que além de ser uma espécie de regra, deva ser impossível contratar o ator belga e não lhe oferecer uma cena de luta. A luta é anti-climática e talvez não de acordo com a idade dos senhores, mas se ainda estamos levando em conta que é uma comédia então tudo bem. É tolice tentar categorizar este filme em termos de bom ou ruim, então o que resta é analisar como uma nostálgica volta aos filmes de ação, e nesse sentido ele satisfaz.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O VOO - FLIGHT


NOTA: 9.
- Pegaram dez pilotos e os colocaram em simuladores para recriar os eventos que levaram o avião a cair. Sabe quantos conseguiram pousar? Nenhum. Cada piloto bateu o avião e matou todo mundo que estava dentro. Você é o único que conseguiu pousar.

Certos filmes parecem que não vão estrear no Brasil, até receberem alguma indicação ao Oscar e começarem a surgir quase ao mesmo tempo. No caso aqui, temos duas indicações. Uma para roteiro e outro para Denzel Washington, que depois de uma cena em que pousa um avião comercial de forma espetacular, domina o filme apresentando um personagem com uma jornada sombria e que prende a plateia do início ao final do filme. É um lembrete do que o ator pode fazer quando um personagem interessante o atinge.
E ele interpreta aqui Whip Whitaker, um piloto experiente que é mostrado na abertura do filme ingerindo altas doses de álcool  e cheirando cocaína. Provavelmente não é a melhor atitude para quem vai pilotar um avião, então que tal beber mais algumas doses de vodca durante o voo? Conforme vamos vendo o filme, ele parece estar acostumado a ingerir altas doses de drogas que poderia matar muita gente. Mas apesar disso, parece ter também adquirido tolerância a isso, tanto que consegue manter a pose e fazer seu trabalho sem despertar desconfiança mesmo com o co-piloto o olhando assustado.
Depois de uma decolagem tão assustadora que faz o co-piloto gritar o nome de Jesus, Whip consegue levar o avião para um lugar onde o voo segue tranquilo. Tranquilo até que inesperadamente, o avião apresenta um problema e começa a cair de bico. Numa manobra inesperada, Whip coloca o avião de cabeça para baixo e consegue nivelar o avião até conseguir um pouso forçado e salvar quase todo mundo. Dois membros da tripulação e quatro passageiros morrem, mas 96 pessoas saem vivas. E Whip é saudado como um herói.
Num primeiro momento, isso parece ser um sinal para a mudança de vida dele. Ele vai para a fazenda de seu avô, já que sua casa está cercada de repórteres,  joga fora toda a bebida que deixava lá estocada. E olha que eu estou falando de muita bebida mesmo. O problema é que começa a rondar a possibilidade de um julgamento porque estava com muito álcool e drogas no seu sistema quando deu entrada no hospital. Só isso já é o suficiente para que ele comece a beber de novo, muito para alguns mas normal para ele, e mesmo com a presença de uma mulher que está tentando ajudar, sua vida parece ir somente para o fundo. E mesmo a ajuda do seu amigo, e presidente do sindicato, Charlie (Bruce Greenwold) e o competente advogado Hugh (Don Cheadle) não parecem ser suficientes para que haja alguma melhora.
O filme então fica numa batalha para ver o que é mais errado. O avião claramente tinha um problema, mas ao mesmo tempo Whip também não deveria estar no estado que estava. "Ninguém mais poderia ter pousado aquele avião", ele diz e não está errado. Tanto que diversos testes no simulador comprovaram isso, mas o que adianta ele ser inocentado e continuar sua vida de dependência química? Vício que lhe fez perder a mulher, o respeito do filho e que agora coloca seu emprego em risco?
O filme tem a direção de Robert Zemeckis, cujos últimos trabalhos haviam sido todos com animação (Os fantasmas de Scrooge, A lenda de Beowulf e O expresso polar) nos últimos 12 anos. Seu último trabalho live action foi O náufrago e talvez ele pudesse estar enferrujado, mas a verdade é que este está longe de ser o caso. Zemeckis está tão em forma quanto na época de Forrest Gump, e o filme é praticamente impecável.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O ABRIGO - TAKE SHELTER


NOTA: 10.
- Vocês acham que eu estou maluco? Escutem: há uma tempestade chegando que não é parecida com nada do que vocês viram antes, e nenhum de vocês está preparado pra isso.

O filme se passa numa parte rural de Ohio. Nada de grandes edifícios aqui, e sim um céu aberto onde se pode ver se uma tempestade está vindo. E o cenário ideal pro filme, onde nosso protagonista que tem uma vida plena e uma família feliz, começa a sentir a chegada de algo que ameaça sua boa vida. Tudo parece tranquilo, mas há um medo que parece se espalhar pela atmosfera. Talvez sejam as mudanças climáticas ou alguma força bizarra, mas os bons dias podem estar chegando ao fim.
Seu nome é Curtis e ele é interpretado pelo ótimo Michael Shannon. Um amigo lhe diz que ele tem uma boa vida, o que considera o melhor elogio que pode lhe dar. Este é um doas maiores medos que um homem parece ter, perder a boa vida que tem. Não estamos falando de luxo ou dinheiro, já que esse não é o caso de Curtis, mas de você ter construído uma vida que considera ideal e de repente ver tudo isso apagado de uma hora para a outra. É praticamente um filme de horror que mostra o terror de um homem, e esse terror nos afeta porque pode ser real e estamos todos sujeitos a esse mesmo problema.
E eu mencionei Shannon e o saudei como ótimo ator porque o filme depende totalmente dele, e ele não decepciona em uma única cena sequer. De um lado lado, ele consegue parecer um estável pai de família e marido, mas é capaz de nos mostrar muito mais do que isso utilizando apenas seus olhos. É através dos olhos dele que que começamos a perceber que a cada pesadelo que tem, o deixa mais perturbado. A cada dia observamos uma mudança, e não acredito que há muitos atores que consigam passar isso da forma que ele faz.
É esse terror que faz, mesmo para a surpresa de sua mulher Samantha (Jessica Chastain), com que ele comece a construir um abrigo no quintal de sua casa. Ele não consegue lidar bem com esses sonhos que está tendo e se sente impelido a construir. Assim como por causa de um sonho ele acaba colocando o cachorro, que sempre viveu pacificamente com eles, dentro de um cercado. Estranhos sinais aparecem em cada sonho, e a única forma que tem de lidar com isso é tomando atitudes que impeçam essas coisas de acontecer. Serão alucinações ou premonições?
Ele tem um histórico de loucura na família. Sua mãe foi internada quando tinha mais ou menos a idade que ele tem agora. Ele procura um médico para ver se há algum problema físico com ele e depois para a frequentar o mais perto que encontra de um psicólogo que existe em sua cidade. Apesar do que se passa na sua cabeça, ele tenta fazer tudo da maneira mais racional possível. Se é que isso é possível.
Será que ele está louco ou é o único que sabe o que está por vir? Vocês podem discutir sobre isso ao final do filme, mas seja qual for a resposta, ela não será agradável. Se me perguntarem, eu digo que isso não faz diferença. A questão só faz deste filme um ótimo filme.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

FLASHDANCE


NOTA: 4.
- Quando você desiste do seu sonho, você morre.

Este é um filme que é lembrado até hoje (recentemente, a música "What a feeling" foi remixada), e assistindo a obra devo dizer que não consigo imaginar o porquê. Ele quer ser um filme sobre dança, amor e ambição. Mais ou menos o que Os embalos de sábado à noite conseguiu fazer alguns anos antes, e um dos seus principais problemas é que tenta imitar tanto o filme com John Travolta que esquece de tentar nos fazer conhecer, e nos importar, com a heroína da história.
O filme se passa em Pittsburgh, onde acompanhamos Alex (Jennifer Beals) que tem um sonho distante de ser uma dançarina. Depois de seu trabalho diurno, ela dança numa espécie de clube de strip-tease mas do estranho tipo que as mulheres dançam de maneira sexy sem tirar a roupa. Todo o tempo vago que tem ela passa treinando dança numa espécie de depósito enorme que ela usa de estúdio de dança. É sempre simpática com todo mundo e nunca parece sequer cansada. Tão inverossímil é essa personagem que sua principal ocupação é como soldadora em uma indústria.
Vejamos o bar onde ela trabalha. Todo ele é montado para ser um bar sem sofisticação nenhum, com paredes sem adornos, mesas onde pessoas ordinárias (a maioria trabalha com ela) tomam cervejas e tudo que pode existir de mais comum possível. Porém, no meio do bar há um enorme palco com show de luzes, água que cai do teto e tudo o mais que possa imaginar para um show em Las Vegas ou coisa do gênero. Todo o palco está completamente fora de sincronia com o resto do bar, tanto quanto Beals está fora de sincronia com a indústria e a pose de soldadora.
Além disso, ela tem uma senhora que serve de mentora, um cão como único amigo, uma irmã que patina no gelo e um pai que reclama das duas o tempo inteiro que aparece. Pra completar, ela começa a ter um caso com seu chefe. O roteiro apresenta tantas e tantas coisas para ela, que esquece de deixar a personagem desenvolver um personagem, e não ser apenas um apanhado de coisas porque isso simplesmente está escrito no roteiro.
Jennifer Beals é talentosa, bonita e tenta dar ao filme uma protagonista que prenda a plateia. Para seu azar, é preciso mais que talento e beleza para conseguir isso. Ela precisaria também de um bom roteiro e uma direção decente para conseguir isso. Ela poderia ter feito maior sucesso com o passar dos anos, pois não acho que falte algo a ela para ter conseguido isso. A única coisa que parece ter lhe faltado é uma melhor escolha de roteiros durante os anos.
O filme é um exemplo perfeito de um filme que é mais conhecido pelo seu impacto na cultura pop do que como um filme que valha a pena ser visto. Toda a história é costurada por incontáveis cenas de dança, porque parece existir somente para isso. E é também mais um exemplo que (o produtor) Jerry Bruckheimer sempre se preocupou mais em fazer filmes que tenham impacto nas telas mesmo que sem história alguma. Como o resto da cinematografia dele, é um filme que funcionava como mero escapismo. Hoje, serve para matar curiosidade.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

LES MISÉRABLES


NOTA: 8,5.
- Eu tive um sonho que minha vida seria diferente desse inferno que estou vivendo.

Este filme é um musical no sentido puro da palavra. O que eu quero dizer com isso, é que se trata de um filme praticamente destituído de diálogos. Os atores não conversam entre si, eles cantam. Sobre essa parte, cabe cada espectador saber se gosta ou não. Eu gosto, e o que vi foi um dos melhores musicais que o cinema produziu nos últimos anos. 
E na figura principal do filme, temos um Hugh Jackman no que pode ser seu melhor papel no cinema. Ele é alma da história e carrega o filme nas costas. História essa enorme escrita por Victor Hugo, em que ele interpreta Jean Valjean, um homem condenado a trabalho escravo por quase duas décadas por ter roubado um pedaço de pão para salvar sua sobrinha de morrer de fome. Finalmente liberto, ele adota outra identidade para fugir de seu passado, e com a ajuda de um bispo que lhe dá prata de sua própria igreja, ele consegue reescrever seu destino adotando um novo nome, já que seu nome verdadeiro é condenado por toda a sociedade.
Para seu azar, Javert (Russel Crowe), autoridade que servia como uma espécie de diretor de onde Valjean cumpria seu trabalho escravo, chega na cidade e reconhece o antigo prisioneiro, que agora é procurado por ter fugido de sua condicional. Por uma série de eventos que se seguem, Valjean deve novamente fugir enquanto é caçado pelo implacável Javert, mas dessa vez ele foge com Cosette (Isabelle Allen), filha de uma mulher a quem fez uma promessa.
A mulher é Fantine (Anne Hathaway), que trabalhava na sua fábrica e foi mandada embora injustamente por intriga de outras trabalhadoras. Cosette está sendo (mal) cuidada pelos Thénardier (Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, rendendo os melhores momentos cômicos do filme), que mentem dizendo que ela está sempre doente para que Fantine mande mais dinheiro. O desespero atinge a mulher que vende seu cabelo, alguns de seus dentes e começa a se prostituir para poder ter dinheiro para mandar para a filha. O sacrifício é tanto que ela não resiste aos maus tratos e morre, mas não antes de entregar a melhor cena do filme. Se Susan Boyle impressionou o mundo cantando "I dreamed a dream", ela vai ser rapidamente esquecida (se é que não foi ainda) depois da performance impressionante de Hathaway, que por si só já é motivo suficiente para valer a entrada do cinema.
E isso por causa de um grande acerto do diretor de não dublar nenhuma música como se costuma fazer em filmes musicais. Todos os atores catam enquanto interpretam, e cada cena ganha em carga dramática. Hathaway em close cantando em uma tomada única, é de simplesmente cortar o coração.
Não é, porém, um filme perfeito. Ainda que Jackman e Hathaway estejam muito bem em seus papéis, nem todo o resto do elenco acompanha. Crowe começa o filme tímida demais, e o dueto que faz com Jackman, que deveria ser uma espécie de duelo, só confirma que ele é coadjuvante no filme. Depois, Cosette é interpretada por Amanda Seyfried, que pouco acrescenta ao filme. 
Outro problema, é que o filme perde muito de seu impacto no segundo ato. Nesse ponto, Crowe até cresce um pouco em seu papel, mas sua interminável perseguição à Valjean já perdeu interesse e fica cansativa. E o amor de Cosette por Marius (Eddie Redmayne) desperta pouco interesse, principalmente porque Seyfried é ofuscada por Samantha Barks, que interpreta uma Eponine também apaixonada pelo rapaz idealista.
Depois de passar o filme inteiro em closes nos rostos dos personagens, o diretor finalmente afasta sua câmera e começamos a ver cenários durante a revolta do povo contra o governo. Se você não conhece a história, não irá saber do que se trata aqui, porque em nenhum momento o filme nos situa do porquê exato da revolta e o que está em jogo no caso de uma derrota, e a montagem do conflito ainda destoa do resto do filme, e atrapalha um pouco do andamento do filme.
Problemas que não atrapalham tanto o filme. Apesar de tudo isso, o filme é uma experiência cinematográfica única e merece ser visto mesmo por quem não goste de musicais. Assim como pelos que conhecem a história, pelos que conhecem o musical ou mesmo os que não tenham a menor ideia sobre o que o filme trata.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LINCOLN


NOTA: 10.
- Cada um de nós tornou possível que o outro fizesse coisas terríveis.

Estranho que os filmes  americanos, geralmente uma forma de arte bem democrática, não desenvolva melhor o seu próprio "histórico democrático". Normalmente, o que vemos são presidentes, que não existem,  transformados em verdadeiros heróis de ação, sábios impassivos ou até mesmo completos imbecis. Há ainda o caso do próprio Lincoln que anteriormente foi transformado em um caçador de vampiros capaz de usar um machado com extrema habilidade. Habilidade tamanha que poderia fazer diferença em batalha.
É assim e quase como uma regra, mas não podemos esquecer que toda regra tem suas exceções, e uma dessas exceções é este maravilhoso filme do diretor Steven Spielberg. O filme, a grosso modo, se trata do presidente tentando angariar a quantidade necessária de votos para aprovar a lei que aboliu a escravidão durante a Guerra de Secessão (também conhecida como Guerra Civil Americana). Claro que o filme aproveita esse episódio para descrever muito mais do que isso. O que o diretor faz, é mostrar a grandiosidade de um grande personagem e tudo que precisamos saber para entendê-lo (e quem sabe admirá-lo) sem precisar passar pela sua vida inteira. E como bônus, poucos filmes atentaram tanto para os detalhes que fazem parte da política.
Interpretado maravilhosamente por Daniel Day-Lewis, Lincoln é confiante, paciente e profundo conhecedor dos jogos políticos. Ele tem os pés no chão e faz o que acha necessário, desde que não manche sua ética, para atingir seus objetivos. Ele pode não apresentar grandes traquejos sociais, mas é muito inteligente, conhecedor da natureza humana e tem sempre uma história na ponta da língua que possa servir para convencer as pessoas de seu ponto de vista.
Aqui entra um dos trunfos do filme, que está ligado ao que eu disse sobre o filme se tratar sobre assuntos mais diversos do que aparenta. Lincoln considerava a escravidão um ato imoral contra um ser humano em uma época em que muitos sequer consideravam os escravos humanos, mas seu interesse ia além disso. Ele apressa a votação da 13ª Emenda (emenda que abolia a escravidão) porque sabia que se esperasse o final da guerra, ele não aprovaria depois; e também porque dessa forma ele iria reduzir a principal fonte de renda de seus inimigos. E dentro desse jogo político, entram os ótimos Tommy Lee Jones como o mais poderoso político abolicionista e David Strathairn como o secretário de estado.
Spielberg parece ter uma fixação pela guerra. Por isso que, mesmo que o filme tenha muitos campos de batalha sem mostrar batalha, ele não consegue evitar que o início do filme comece sangrento no meio de um lamaçal. Depois disso, o filme foca apenas na parte política de Washington, que é mostrada em cores com tons marrom na fotografia sempre sensacional de Janusz Kaminski, diretor de fotografia que há muitos anos faz parceria com o diretor.
Ao mesmo tempo, Day-Lewis parece ter uma fixação pelo Oscar. Seu Lincoln tem uma fala mansa que parece poder convencer qualquer pessoa. Sua expressão é cansada e envelhecida pelos anos de guerra que o consomem, e seu corpo curvado como se não tivesse mais condições de andar totalmente ereto. Ele não quer que ninguém mais morra nessa guerra. Ele sente pelas mortes e Day-Lewis encarna isso tudo perfeitamente e faz parecer fácil. E estamos falando do mesmo homem que já interpretou papéis díspares como o Açougueiro no filme de Scorcese e um "moicano". Talvez não haja nada que ele não possa fazer.
É uma aula de história, ainda que não pareça uma. Pelo menos nunca tive uma aula de história que tivesse me prendido tanto. Que tenha me deixado tão interessado. O filme termina tão logo o presidente é assassinado, mas nem acho que essa cena seja necessária. O filme poderia ter acabado com o fim da escravidão e da guerra, que é o verdadeiro legado de Lincoln. Talvez com a leitura em voz alta da Emenda (não ouso dizer que lê). Ele não entrou pra história porque foi assassinado, mas acho que se não houvesse essa cena grande parte da plateia poderia ficar decepcionada. De qualquer forma, é um filme para ser visto mesmo por quem não é fã de história. Para mim, é ainda mais gratificante assistir esse filme depois de ter assistido recentemente O nascimento de uma nação, pois assim posso desassociar a imagem do ex-presidente americano de um filme tão racista.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O LADO BOM DA VIDA - SILVER LININGS PLAYBOOK


NOTA: 9,5.
- Sabe. Por um tempo eu achei que você era a melhor coisa que aconteceu comigo. Agora estou começando a achar que é a pior. Eu lamento ter te conhecido.

Depois de um tempo afastado da direção de filmes, David O. Russel volta ao trabalho em boa forma. Depois de sua indicação em 2011 por O vencedor, ele é novamente indicado esse ano por este filme. Pessoalmente, não gostei muito do filme anterior, mas aqui ele acerta em praticamente tudo, em especial pra mim por ter personagens principais realmente interessantes e que prendem a atenção do espectador desde o início até o fim.
Acompanhamos principalmente os altos e baixo do personagem interpretado por um (indicado ao Oscar) Bradley Cooper muito inspirado. Talvez não seja o suficiente para lhe render uma estatueta, já que concorre com nomes de peso que também estão muito inspirados, mas ele está bem o suficiente para mostrar que seu sucesso não ocorreu por acaso. Seu personagem é Pat Soletano Jr., que acaba de sair de uma instituição mental depois de um violento incidente envolvendo sua esposa e o amante dela. Decidido a recuperar sua vida, e a ex-esposa, ele entra numa disciplinada rotina de treinamento para perder peso e de leitura.
Apesar de seu esforço, logo de cara dá pra perceber que ele não está bem, se é que um dia ele já esteve bem. Ter a esposa de volta se transforma em uma obsessão, e embora ele insista em dizer aos seus pais que tudo vai terminar bem nada parece indicar que isso realmente vá acontecer. Sua mãe parece ser uma pessoa sã e carinhosa com seu filho, mas o principal é que ela parece acostumada com o seu comportamento porque seu marido, Pat Sênior (Robert De Niro) também tem comportamento violento que o levou a ser banido dos estádios, e agora assiste os jogos do seu time na TV cercado de supertições e TOC com a posição dos (muitos) controles remotos.
Um amigo tem a ideia de o apresentar à Tiffany (Jennifer Lawrence, também indicada e no caminho para se tronar a melhor atriz da sua geração). Por que seu amigo acha que Pat pode se dar bem com ela? A resposta é fácil: ela é tão louca quanto o próprio Pat. Ela é uma jovem viúva que também tem sérios problemas mentais e que só pioraram depois da estúpida morte de seu marido, e somente não foi internada porque o destino não quis. Ainda assim ela é a única no filme que consegue entender este homem, e de alguma forma ele também consegue entendê-la. Mas principalmente, ele sente a necessidade de estar com ela porque ela ainda mantém contato com sua ex-mulher.
Ela, porém, não vai facilitar para ele. Ele quer que ela entregue uma carta e ela diz que pode fazer isso, mas ele deve participar de um concurso de dança que ela se inscreveu. Entre as cenas do relacionamento estranho que os dois desenvolvem, temos ainda um Robert De Niro mais inspirado que o normal (não tanto quanto no começo de sua carreira, mas ainda assim chamando bastante atenção) e um Chris Tucker hilário como sempre e que finalmente resolveu fazer um filme fora da sua franquia de A hora do rush.
Uma das coisas mais interessantes do filme é a relação entre pai e filho que De Niro interpreta com Cooper. Pat júnior não é o único com problemas para resolver, mas de alguma forma os dois, de maneira surpreendente, conseguem estreitar os laços e criar um entendimento através de jogos de futebol americano e o concurso de dança. Claro que em um determinado momento, o filme vai se render às convenções de roteiro, mas isso pouco importa porque é tudo tão bem feito que não pode ser nada além de ótimo filme.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...