sexta-feira, 27 de abril de 2012

SETE DIAS COM MARILYN - MY WEEK WITH MARILYN

NOTA: 9.
- É uma agonia porque ele é um grande ator que quer ser uma estrela do cinema, e você é uma estrela do cinema que quer ser uma grande atriz. Este filme não vai ajudar nenhum dos dois.

É difícil explicar o fenômeno que era Marilyn Monroe nos anos 1950. Ela não era uma simples estrela do cinema, era um furacão que causava uma revolução por onde passava. Ela imprimia uma ideia na mente das pessoas naquele tempo. Provavelmente em toda a humanidade. Para os homens o maior objeto de desejo, para as mulheres um ideal a ser seguido. Ela conseguia incorporar vulnerabilidade, doçura, medos e esperanças.
E a única forma desse filme funcionar, era achar uma protagonista que conseguisse passar essas qualidades, e eles encontraram em Michelle Williams. Claro que não inteiramente, afinal, dificilmente surgirá outro furacão Marilyn, mas o forte batom vermelho, o cabelo dourado e certos ângulos de câmera nos fazem lembrar um pouco a estrela. Ainda assim, Williams consegue fazer com que tenhamos vontade de abraçá-la e ficar junto dela.
Baseado em uma história real de Colin Clark (Eddie Redmayne), um jovem amante de cinema que conseguiu na marra um emprego na produção de O príncipe encantado, filme rodado na Inglaterra dirigido e estrelado por Laurence Olivier e também estrelado por Marilyn Monroe. Seu marido na época era o roteirista Arthur Miller, e durante uma semana ele se afastou da Inglaterra e a atriz pediu a companhia de Colin durante esse tempo.
Muitos diziam que Marilyn se fazia de pobre coitada para conseguir a simpatia de todos. Seria parte do que a tornou uma grande estrela. No filme, o que vemos é uma mulher insegura de suas capacidades como atriz e como ícone. Ela se sente solitária. Colin é apenas uma boa companhia para alguém que não quer ficar sozinha. Todos a tratam como se fosse a Marilyn Monroe, o jovem a vê como uma mulher. Ele vê a através de tudo isso.
Colin é também diferente dos homens com quem ela costuma sair. Joe DiMaggio (jogador de baseball). Robert Mitchum, John e Bobby Kennedy, todos grandes nomes que não costumavam ficar à sombra de alguém. E para ela, aparentemente também figuras paternas que ela nunca teve. Ela era esperta, mas não tinha confiança nisso. Se cercava de pessoas inteligentes. No cinema, contratava a mulher de Lee Strasberg como se não fosse capaz de fazer um filme sem ela, o que irritava profundamente Olivier por atrasar as filmagens.
Não há exatamente uma história a ser seguida aqui. Baseado no diário que Colin escreveu nessa semana, o que vemos é como ele parece deslocado nesse meio. Ele é cercado de outras pessoas mais interessantes que ele. Temos Olivier (Kenneth Branagh), que mistura fúria pelo comportamento dela misturado com uma paixão impossível. Paula Strasberg (Zoe Wanamaker) que parece ter uma fixação por ela esquecendo tudo à sua volta. E Arthur Miller (Dougray Scott), desconectado do mundo que ela cria ao seu redor.
Para completar o elenco, temos Julia Ormond como Vivien Leigh, a mulher de Olivier que consegue perceber tudo que se passa entre os dois antes mesmo dele. Jude Dench como Sybil Thorndike, que ensina a Olivier que não importa se Monroe sabe interpretar ou não, pois uma vez que ela estivesse em cena ninguém conseguiria olhar para qualquer outra coisa. E Toby Jones, como um assessor de imprensa irrelevante que some de uma hora para outra.
O filme funciona como se fosse um making of das filmagens. É interessante, mas assim como nos filmes de Marilyn o interessante não é a história, e sim ela própria. Nesse caso, o interessante é a performance de Michelle Williams. Ela é capaz de mostrar diferentes Marilyns, a que somente aparecia para as pessoas íntimas, a que interpretava para o público e a que fazia os filmes. Quase ninguém realmente a conhecia, mas esse parece ser um retrato bem fiel. Trabalho brilhante que valeu uma indicação à Williams e Branagh ao Oscar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

ARTHUR - O MILIONÁRIO IRRESISTÍVEL


NOTA: 7,5.
- A gente não deve se casar. Não temos nada em comum. Você ama cavalos, eu não confio neles. O sapato deles é permanente. Quem tem um compromisso desse com um sapato?

Esta é a refilmagem de um filme de mesmo nome lançado logo no início dos anos 1980. A grande força dele, vinha de Dudley Moore no papel principal e de John Gielgud como seu mordomo Hobson. Esta refilmagem, bem fiel à original, tem Russel Brand e Helen Mirren nos papéis principais. Não se trata de uma troca à altura, mas devemos dizer que pelo menos foi uma grande tentativa. 
Em especial não é uma troca justa por causa de Brand. Dudley era simplesmente amável em todos os filmes que fazia. Brand não é, mas merece muitos pontos por tentar. Já a Hobson de Mirren não fica para trás em relação ao de Gielgud, eles são apenas diferentes. Gielgud tinha um jeito reservado, enquanto Mirren, apesar de severa, traz uma amabilidade para a relação dos dois.
Ele interpreta o personagem título, um milionário alcoólatra que parece querer festejar todos os dias com todo mundo sem se importar em pagar a conta no final. Sem nenhuma responsabilidade, sua mãe faz um trato com ele para casá-lo com Susan (Jennifer Garner), uma mulher rica que quer cuidar dos negócios da família de Arthur. Se ele não casar, perderá sua herança. O problema é que ele acaba se apaixonando por Naomi (Greta Gerwig).
As duas mulheres são extremamente diferentes. Susan é rica mas não é totalmente bem recebida pela alta sociedade. Isso porque seu pai fez sua riqueza do nada através do ramo de construções. Ela acha que o casamento mudará a forma que as pessoas a veem. Naomi não podia se importar menos com isso. Ela não quer o dinheiro ou a posição, se esforça bastante para perdoar os deslizes de Arthur (uma espécie de Charlie Sheen das telas) enquanto tenta sustentar a casa como uma guia turístico não licenciada. 
Brand e Gerwig formam um par interessante, mas acho que isso deva ser mais por ela do que qualquer outra coisa. Quem a viu anteriormente (Greenberg), pode perceber que ela parece ser capaz de ser  um amável casal com qualquer um. Brand recebe créditos por não tentar imitar Dudley e por nunca exagerar na sua interpretação. E ainda surpreende por mostrar ser capaz de fazer uma atuação com sutilezas quando necessário, engrandecendo o filme um pouco.
O resultado final é bem satisfatório. Não é um filme tão engraçado quanto o original, mas tem sua graça em muitos momentos ainda que não arranque gargalhadas. A seu favor, tem diálogos bem escritos, alguns com uma malícia deliciosa e que fluem bem durante todo o filme. Ainda que não seja uma grande comédia, merece os parabéns por fazer rir sem apelar para escatologia e palavrões e pelo esforço de Brand.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

SEM SAÍDA - ABDUCTION


NOTA: 2.
- Eles não são seus pais de verdade.

Não existe outro motivo para a existência desse filme que não seja pegar carona no sucesso de Crepúsculo usando Taylor Lautner no papel principal. Os fãs do ator (provavelmente deveria ter escrito "as fãs") que me desculpem, mas um filme cujo plot é chupado de outros filmes do gênero e sem um pingo de originalidade, com um roteiro mal escrito que não leva para lugar nenhum e diálogos ruins, não merece ser visto. Provavelmente, muitas pessoas gostariam de serem raptadas ao invés de assistir a esse filme. 
Karen (Lily Collins) e Nathan (Lautner) estão fazendo uma pesquisa para um trabalho de colégio. Eles pesquisam sobre crianças raptadas e caem em um site que mostra como as crianças seriam hoje em dia enquanto fazem uma brincadeira misturando duas pessoas famosas parecidas com a criança desaparecida (afinal, que brincadeira poderia ser mais saudável e divertida?). Até que ela olha um menino e diz: "Uma mistura de Matt Damon com... você!"
Claro que não poderia haver uma maneira de deixar mais óbvio da onde saiu o filme que isso. Então nesse momento todos já sabem que se trata de um rapaz com habilidades especiais que deve começar uma corrida pela vida por causa de um evento em seu passado que não lembra. Isso deveria ser o suficiente para desistirem de ver o filme, mas para as fãs, há a chance de ver Lautner interpretando quase o mesmo papel de Jacob enquanto tira a camisa sempre que o momento parece apropriado (e com ele, nunca parece haver um momento inapropriado).
Nessa corrida pela vida, Nathan (ou Jacob) descobre que seus pais são na verdade agentes secretos da CIA designados para protegê-lo. De um dia para o outro, ele descobre que é o adolescente mais importante do mundo. E nessa descoberta, vão passando grandes nomes desperdiçados como: Maria Bello, Alfred Molina, Sigourney Weaver, Jason Isaacs e Michael Nyqvist (que só aperece em Hollywood para interpretar vilões).
Já que o mais importante nesse projeto é Lautner, falemos dele. Ele tem o físico e a habilidade para estar em filmes de ação, apesar de sua cara de líder de boy band não ser exatamente adequada. O problema maior mesmo está na sua atuação. De todos os ídolos adolescentes, não me lembro de nenhum que seja tão sem expressão quanto ele. Parece um robô avançado tentando entender as emoções humanas. Seus companheiros de Crepúsculo, conseguiram mostrar em outros filmes que sabem interpretar, ele  ainda não conseguiu. Se ele quiser ter uma vida artística depois que a saga acabar, é melhor que comece a escolher melhor seus futuros filmes.
Não consigo encontrar qualquer explicação para que o diretor John Singleton aceitasse esse trabalho. Depois de aparecer em bons dramas mais autorais (Os donos da rua e Duro aprendizado), ele se mostrou um competente diretor de ação em filmes como Shaft Quatro irmãos, mas aqui ele não consegue mostrar nem a competência ou mesmo um pouco de paixão que mostrou nos filmes anteriores. 
Não pergunte porquê qualquer coisa acontece, duvido que mesmo o roteirista saiba lhe explicar. Os agentes da CIA tão todos incompetentes que morrem das maneiras mais estúpidas possíveis. Somente Lautner parece ser capaz de derrotar os vilões. E não se assuste com frases como "Não quero morrer aqui, tem uma bomba no forno" e "Você vai ser responsável pela morte de todos os seus amigos... no Facebook". Elas infelizmente estão lá, e não são piadas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO - THE RUM DIARY



NOTA: 6.
- Oscar Wilde disse: Os homens sabem o preço de tudo, e o valor de nada.

Este filme é baseado em um livro escrito por Hunter S. Thompson. Colocando o nome do autor no Wikipedia, descobrimos que ele era filho de alcoólatras, cujo pai morreu quando tinha apenas 15. Cresceu um adolescente problemático que foi preso por roubo, foi despedido da Time Magazine por insubordinação e ainda foi demitido de outro jornal do interior de Nova York antes de tentar a vida em inúmeros jornais da América Central e do sul.
Agora já nas curiosidades do filme, temos o fato que Johnny Depp encontrou um manuscrito do livro escrito por Hunter em 1970 na sua cabana. Depois de ler o gostar do livro, ele fez com que este fosse publicado. E agora produz a versão cinematográfica, chamando o diretor e roteirista Bruce Robinson, que já havia trabalhado com o tema do alcoolismo anteriormente e faz a vida de Hunter parecer de certa forma encantadora.
Depois de aparecer em um estado alcoólico assustador em um quarto que muito lembra Se beber não case, Kemp (alter ego de Hunter, interpretado pelo próprio Depp) segue para o jornal em onde vai começar a trabalhar. Ele não tira os óculos escuros e o editor do jornal sabe que está tentando esconder os olhos vermelhos da ressaca, mas como ele é o único candidato para a vaga é contratado mesmo assim.
Ele se aproxima de dois funcionários do jornal, Sala (Michael Rispoli), fotógrafo veterano e Moburg (Giovanni Ribisi), um jornalista que já foi demitido há um tempo mas que continua frequentando o jornal. Talvez ele ainda frequente por gostar do ambiente, ou talvez seja porque já fritou seu cérebro com álcool e diferentes tipos de drogas. Outro que se aproxima de Kemp é Sanderson (Aaron Eckhart), um homem que fez uma fortuna em Porto Rico através de negócios obscuros. 
Kemp é um repórter que parece ter problemas em entregar suas matérias dentro do prazo. O que deve ser horrível para qualquer jornal, pior ainda para um lugar onde, segundo o filme mostra, ele parece ser o único repórter. Talvez por isso o mantenham. Já Sanderson, parece o querer por perto para que fale bem dele e afastar sua má reputação. Ele tenta comprar Kemp com um belo carro e conforto, apesar de achar que poderia ter comprado com bem menos que isso.
Depp parece ter uma atração por Thompson, personagem que sou capaz de jurar que ele já interpretou em Medo e delírio, ao lado de Benicio del Toro. Apesar de seu problema com bebida, é o tipo de pessoa que parece ser boa companhia. Depp faz de seu hunter um sujeito que fala rapidamente através de sussurros, como se estivesse com uma constante falta de fôlego. Apesar da quantidade que consome, ele nunca parece estar bêbado. Ou talvez seja o seu estado natural estar sempre bêbado que apenas estranharíamos se ele ficasse sóbrio.
O filme implica que há uma fraude em Porto Rico com dinheiro americano para beneficiar algumas pessoas que ficarão muito ricas, e que é Kemp que deve lutar para levar o caso ao público, mas ele está bêbado demais (ou drogado demais algumas vezes) para poder conseguir fazer alguma coisa. Sem definir o foco, o filme falha um pouco ao mostrar o lado alcoólatra do repórter e mais ainda ao mostrar essa tal cruzada contra a corrupção que nunca vemos acontecer. Ao final do filme, somos informados que ele faz com que os bastardos paguem pelos seus crimes. É uma pena que não vejamos isso em nenhuma parte do filme, que só o vejamos bêbado e realizando nada.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A PERSEGUIÇÃO - THE GREY


NOTA: 9.
- Mais uma vez para a briga. De encontro à última batalha que irá ter. Viva e morra nesse dia. Viva e morra nesse dia.

Se fosse um documentário, estaríamos vendo como é que lobos conseguem sobreviver em lugares de frio extremo onde nenhuma pessoa parece conseguir. Sem armas, não estou contando com suas presas naturais, eles dominam lugares como o círculo Ártico matando quem se aproxima do seu habitat natural. Não parece ser nada "pessoal", eles estão apenas protegendo seu lar. Quanto será que um grupo de pessoas perdidas nesse lugar inóspito poderia durar?
Nesse filme, o grupo é formado por trabalhadores de uma companhia de petróleo. Logo no início do filme, Ottway (Liam Neeson) descreve esses homens como impróprios para a humanidade. Eles parecem o tipo de homens que tem empregos que a maioria das pessoas não gostaria de ter. Talvez sejam atraídos por um bom salário ou por gostarem de estar em um lugar onde apenas se trabalha, dorme e bebe. Ou pior ainda, eles podem gostar de estar em um lugar que pouco lembra a civilização.
Ottway não parece deslocado daquele lugar. A única que sabemos da sua vida é que perdeu, de alguma forma, a mulher que amava. Talvez ele se encaixe em outro categoria dos homens que trabalham naquele lugar: os que estão fugindo de algo. Talvez a mulher o tenha abandonado, talvez tenha morrido. Seja lá o que for, aquele parece ser seu refúgio. Seu trabalho é matar os lobos que atacam os trabalhadores, algumas vezes em plena luz do dia.
Quando esses trabalhadores estavam voltando para a casa em um pequeno avião que parece ser fretado somente para o transporte deles, há um acidente que mata quase todos os tripulantes instantaneamente. Somente o pequeno grupo de sete pessoas consegue sobreviver e sequer sabem onde estão. A única chance que parecem ter é esperar o resgate, mas o avião é pequeno e rapidamente está ficando debaixo da neve.
Depois de perderem um homem para os lobos, Ottway, o mais experiente neste tipo de assunto, lidera o restante para atrás da linha das árvores, onde ele acredita que poderão ter alguma chance de sobreviver até serem resgatados. Apesar de achar que ele está somente facilitando para a alcateia, ele parece saber do que está falando. Assim eles seguem através da neve com pouca comida e acendendo fogueiras que mal mantém os lobos afastados.
O filme trata os personagens como indivíduos, e não como um bando de sobreviventes desesperados. Em alguns momentos, eles conversam e passamos a conhecê-los um pouco. Há muito mais lobos que homens, e eles parecem ter paciência para atacar um por vez. Será que há a possibilidade de termos um final feliz? Pouco provável. De qualquer forma, esperem no cinema até o final dos créditos onde uma cena responderá a pergunta, só não sei se todos ficarão satisfeitos com a resposta.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

MEIA-NOITE EM PARIS - MIDNIGHT IN PARIS


NOTA: 9.
- Nenhum assunto é terrível se a história é verdadeira. Se a prosa é limpa e honesta, e se afirma coragem e graça sob pressão.

Acho que a melhor forma de começar essa resenha é com a seguinte frase: CUIDADO, A RESENHA DESSE FILME CONTÉM SPOILERS. Se você não assistiu o filme, talvez seja melhor fazê-lo antes de ler mais alguma coisa. Tendo avisado, espero que não haja reclamações. E tudo isso porque acho complicado falar sobre o filme sem falar da fantasia tecida por Woody Allen. Então se já assistiu, vá em frente. Se ainda não assistiu, continue por sua conta e risco.
A história é sobre um casal que está passando férias em Paris junto com os pais da moça. Eles são Gil (Owen Wilson) e Inez (Rachel McAdams) que parecem estar apaixonados um pelo outro. Basta mais alguns minutos de projeção para percebermos que ele está na verdade apaixonado por Paris. Ele quer andar pela cidade, passear pela chuva e respirar o mesmo ar que grandes artistas respiraram nos anos 1920. Artistas como Hemingway, Fitzgerald e outras lendas.
As diferenças só começam a aumentar cada vez mais. Ele quer morar em Paris, ideia que ela rejeita. Sua ideia é morar com ele em uma casa em algum subúrbio dos Estado Unidos. Ele é um roteirista de Hollywood que está tentando escrever seu primeiro livro. Enquanto ela gosta de sair para fazer compras, ele quer sair para frequentar bistrôs e cafeterias que seus grandes ídolos costumavam frequentar em uma época que eles gostaria de ter vivido.
Para piorar a experiência dos dois em Paris, eles se encontram com um pedante amigo de Inez que os leva para diversos passeios e consegue estragar todos eles querendo demonstrar seus conhecimentos. Por isso, Gil se afasta em uma noite e resolve andar pelas ruas. Até que um antigo carro passa por ele e o convida para uma festa. Ao entrar no carro, ele descobre que está conversando com Scott (Tom Hiddleston) e Zelda Fitzgerald (Alison Pill).
Allen não tenta explicar como acontece essa volta para o passado que Gil realiza todas as noites, e nenhuma explicação é necessária. O importante é que ele volta e encontra Fitzgerald, T. S. Elliot, Picasso, Buñuel, Dalí e muitos outros que frequentavam o salão de Getrude Stein. Talvez esse seja um sonho de Allen, já que Wilson o interpreta até com certos trejeitos, ainda que de forma menos irritante que o próprio diretor costuma interpretar.
Não sou um fã dos filmes de Allen, mas reconheço que algumas vezes ele acerta em determinados filmes, e acerta em cheio. Apesar de muitos o considerarem um dos melhores diretores da atualidade, acho que falta um certo capricho em seus filmes na maioria das vezes. Mas há vezes como essa, que nenhuma falta de capricho pode estragar sua história. Não há nada do que se desgostar deste filme. E chega de falar do filme, a acreditem que ainda guardei inúmeras surpresas para todos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

REENCONTRANDO A FELICIDADE - RABBIT HOLE


NOTA: 9.
- A sensação desaparece?

Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart) são um casal tentando seguir sua vida. Menos de um ano antes, o filho deles de apenas quatro anos correu para a rua para pegar o cachorro, e assim acabou sendo atropelado e morto. Ambos ainda vivem o sofrimento da perda, a intimidade entre eles desapareceu totalmente e vivem cercados pelas roupas e brinquedos de um menino que não vive mais entre eles. E mais ainda, cercados pelas memórias, obviamente.
O filme, porém, não é sobre o pesar do casal. Suas vidas já não são mais uma terrível agonia. Baseado em uma peça de teatro, o filme ocupa o espaço entre os clichês do gênero. Não acompanhamos sobre como eles começam a superar a dor, acompanhamos quando esse período passou e o que ficou é um vazio na relação dos dois. Eles vão à um grupo de ajuda para pais que perderam os filhos, Becca não aguenta ficar lá, Howie encontra uma pessoa disposta a ouví-lo em Gaby (Sandra Oh).
Pode parecer estranho que ele encontre para conversar que não seja sua mulher, mas a verdade é que ela tem dificuldades para se comunicar com qualquer pessoa. Ela não ouve sua mãe ou sua irmã mais nova que acabou de descobrir que está grávida. Ela sequer consegue se aproximar apropriadamente do cachorro que agora mora com a mãe. Eles parecem ter chegado em um ponto em que nada que possa ser dito entre eles vai remediar alguma coisa.
Agora devo indicar uma grande surpresa do filme: apesar do tema e de tudo o que escrevi até agora, o filme trata tudo de uma forma bem humorada. Não sei se é por causa do diretor John Cameron Mitchell (que dirigiu o interessante Hedwig), que já mostrou bom humor nos trabalhos anteriores, ou se é mesmo o texto da peça que é feito dessa maneira (e que não assisti e não posso comentar), mas de qualquer forma o filme trata um assunto delicado de maneira que não fique pesado ou depressivo.
Eu gosto muito do trabalho de Aaron Eckhart, mas devo confessar que fiquei hipnotizado pela atuação de Kidman. Acho impressionante como ela consegue ser dois tipos de atriz totalmente diferentes: uma é a estrela glamourosa capaz de realizar Moulin Rouge e Nine; e a outra é a que se arrisca em papéis impressionantes como As horas e filmes como esse. E me impressiona como ela pode se destacar tão bem de uma forma ou de outra. Poucas conseguem.
E sua personagem é a peça principal do filme. Ele segue as confusões da vida dessa mulher de forma surpreendente. É um filme simples o suficiente para contar tudo que precisa ser contado da história, mas não tão simples que não nos faça sentir o que os personagens estão passando. Saber sobre o que o filme é, é uma coisa, mas como ele é tratado é outra totalmente diferente. E eu achei o tratamento ótimo.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM SONHO DISTANTE - FAR AND AWAY


NOTA: 5.
- Eu tentei me provar para você, mas eu não sei nada sobre livros, alfabetos, ou o sol ou a lua. Tudo que eu sei é que Joseph ama Shannon.

É impressionante como um filme com tanto apuro visual como este pode conter tão pouco conteúdo inteligente. É uma história tão simples e banal que parece não ter nenhuma outra intenção que não seja voltada para agradar os adolescentes da época. Parece ainda pior que uma produção tão grandiosa coloque um astro do nível de Tom Cruise (na época, já tinha feito Top Gun, Nascido em 4 de julho, Negócio arriscado entre outros) para contar nada.
Ele é Joseph Donelly, filho de um pobre trabalhador que tem a casa queimada por capangas que trabalham pro dono das terras bem no dia do enterro do pai. Isso faz com que ele parta atrás de vingança, indo atrás do dono das terras para matá-lo. Atrapalhado, tudo que consegue é acabar ferido onde é cuidado pelo "inimigo". É na casa dele que tem contato com a rebelde e moderna Shannon Christie (Nicole Kidman).
Ela está cansada de bancar a filhinha perfeita de seus pais. Ela quer ser moderna como acredita que é, e para isso deseja ir para América, onde acredita que há tanta terra que estão dando de graça. Joseph é a chance dela de finalmente conseguir sair daquele lugar. Ela pede pra ele acompanhá-lo e ele vai, afinal, o que teria a perder? Claro que o encontro entre os dois não é apenas coincidência, mas a base do filme. Como todos os personagens são tão transparentes quanto parecem ser, tudo acontece através de coincidências. A arbitrariedade parece ser a única forma de fazer o filme seguir para algum lugar.
Como tudo é previsível, nada mais óbvio do que a velha fórmula de sempre. Eles viajam como irmãos e passam por um longo período de antagonismo antes de perceberem que são apaixonados um pelo outro. Claro que todos podem ver que eles são feitos um para o outro, mas eles só conseguirão perceber isso muito tempo depois. Os dois chegam em Boston onde ficam em um bordel. Talvez houvesse outro lugar pra ficarem, mas o filme teria menos cores. Se realmente há um motivo para ficarem lá, não descobrimos. Talvez seja mais uma simples coincidência.
A história não melhora muito. Joseph se transforma em um boxeador. Há diversos trabalhos que ele poderia fazer, mas como o filme não faz ideia do que seja o personagem ou mesmo que descubra uma forma de torná-lo interessante, por que não boxe? Especialmente quando se pode fazer com que ele saia e volte pro mesmo lugar que estava sem acrescentar nada para o filme ou para o personagem.
Eventualmente, um infortúnio acontece e eles acabam tendo que se separar. Como num conto de fadas, os dois resolvem ir para o mesmo lugar: Oklahoma, onde há uma corrida atrás de terras. Mais ainda, os pais de Shannon decidem ir para América também, onde para satisfazer a filha eles vão participar da tal corrida, de forma que todos podem se encontrar novamente. Incluindo o chefe dos capangas que queimaram a casa de Joseph. Afinal, todo filme precisa de um vilão, certo?
A corrida pelas terras é até interessante, mas nada que melhore muito o filme. Principalmente porque o filme não tem nenhum personagem forte. Todos os personagens são contraditórios e confusos. E ainda pior, nenhum deles tem algo interessante ou inteligente para dizer. Lindas paisagens filmadas de maneira espetacular, bons cenários e só. Muito pouco para manter a platéia interessada.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

ENTERRADO VIVO - BURIED


NOTA: 9.
- Você está aterrorizado, então eu sou um terrorista.

Ser enterrado vivo deve ser um pavor para qualquer pessoa. Você fica largado no escuro sem poder se mover direito. Pode gritar mas ninguém será capaz de ouvir. E com certeza começa a saber que depois de um tempo seu oxigênio vai acabar e não há nada que se possa fazer. É isso que acontece com o personagem de Ryan Reynolds, Paul Conroy. Ele não é um soldado como seus captores acreditam que ele seja, ele é apenas um motorista contratado. Na guerra, isso pouco parece importar.
Ele acorda no escuro. A única coisa que pode fazer é sentir o que tem a sua volta, ele tateia e encontra um isqueiro. Só aqui começamos também a perceber o que está acontecendo. O pesadelo é real, ele está preso em um caixão. Encontra um celular que apenas confirma o que desconfiava: ele foi raptado e está sendo mantido refém.
Não pensem que é uma falha dos captores ele ainda ter um celular. Esse é um celular que eles lhe deram. Eles querem que ele use o celular. Só assim eles podem provar que Conroy ainda está vivo, e só com essa prova eles podem pedir o resgate. A partir desse momento, começamos a nos identificar com o desespero de Conroy. Ele pode ligar para a mulher, para autoridades e para quem mais conseguir, mas não pode dizer onde está ou como pode fazer para que o resgatem.
Para a sua sorte, o caixão é um pouco maior que o comum. Isso provavelmente permite que ele tenha um pouco mais de oxigênio e fique vivo por um pouco mais de tempo. Para a nossa sorte, o tamanho também permite diferente ângulos de câmera e faz com que o filme ganhe mais ação, o que é essencial em um filme. É possível que pensem que por ser um filme em um caixão ele seja monótono, mas não é este o caso. O diretor e o roteirista conseguem tirar mais ação do que achava possível em um filme como esse. E nada que não pareça real.
Os únicos diálogos do filme são através do celular. Cada ligação não parece trazer nenhum conforto para ele. Sua mulher não parece chegar nunca em casa. Nenhuma autoridade parece ser capaz de fazer nada para ajudá-lo. Em alguns casos, ele até mesmo é colocado em espera. Não basta estar numa situação de desespero, nada parece fazer sua situação melhorar.
Ao contrário do que se possa imaginar, não há uma cena "do lado de fora". Não tem agentes em um escritório tentando localizá-lo, não há uma esposa chorando pela situação do marido e nem mesmo dos sequestradores. Não há sequer um flashback da emboscada ou de qualquer passagem dele antes de ser enterrado. Nunca vemos quem está do outro lado da linha. Queremos saber quem está no outro lado, mas se nos é mostrado satisfazemos nossa vontade, se não conseguimos ver, ficamos no mesmo desespero do nosso protagonista. 
Ryan Reynolds faz um trabalho decente no papel de Conroy. Em um filme como esse, linguagem corporal é tudo, e ele consegue fazer um personagem interessante em um espaço limitado. O tempo não é exagerado também, cerca de uma hora e meia, o que não parece demais ou de menos. A câmera só aumenta a claustrofobia, e me faz apenas querer não passar por uma situação como essa.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

HITCHCOCK TRUFFAUT 34: SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO - UNDER CAPRICORN (1949)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui. 

NOTA: 5.
- Você é um ex-condenado. Sabe qual será sua pena se for acusado de novo?

Este é outro filme único na carreira do diretor, e mais um do qual ele se arrependeu de ter realizado. O motivo principal, é que ele aceitou fazer este filme porque com essa história isso lhe permitiria trabalhar com Ingrid Bergman. A atriz na época era a maior estrela de Hollywood (já havia até feito sucessos como Casablanca), e a vaidade falou mais alto. Ele queria poder dizer que todos os estúdios queriam Bergman, mas ela havia escolhido o seu filme independente. Uma coisa que considerava uma vitória contra a indústria, mas que depois reconheceu ser um ato infantil.
Outro erro que ele reconhece, é uma escolha errada de seus roteiristas. Um era um amigo pessoal do diretor, mas profissionalmente inexperiente. Outro escrevia peças de teatro, mas tinha um problema: escrevia peças que tinham um ótimo primeiro e segundo ato, mas que nunca terminavam bem. E esse é um dos problemas do filme. Não que ele se desenvolva de maneira excepcional, mas com certeza os quinze minutos finais do filme se arrastam para tentar elucidar a trama.
O filme se passa em 1831, na Austrália, onde um ex-condenado, Flusky (Joseph Cotten), consegue sua riqueza mas não consegue ser bem visto pela sociedade. Ele é casado com Lady Henrietta (Ingrid Bergman), uma mulher com problemas de alcoolismo. O primo dela chega e se aproxima do casal, e juntos eles acabam descobrindo um estranho plano da governanta de envenenar Henrietta por amor à Flusky, e que este cumpriu pena por conta de um crime que Henrietta cometeu.
O filme apresenta alguns elementos que são característicos do diretor. A governanta que tem o tom misterioso já havia aparecido em Rebecca, o envenenamento progressivo é outra coisa que já havia sido em Interlúdio (com a própria Bergman repetindo o ato) e o peso do passado que se repete em alguns outros filmes. Mas nada que na verdade justifique o uso desses elementos. O mestre do suspense usa os elementos que conhece tão bem em um filme que nada tem de suspense.
Na época, alguns admiradores do diretor chegaram a declarar, no tempo do lançamento, este como o melhor filme de Hitchcock. Eu não vi nenhuma qualidade que justificasse esse título. O filme é um romance de época baseado em um livro que era uma comédia. Aqui nada há de engraçado. Fica apenas um longo e muito elaborado ensaio sobre os tormentos da consciência e do amor na vida das pessoas. Fica a beleza de um filme rodado em belas cores por Hitchcock, mas sem nenhum conteúdo interessante.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

TOQUE DE RECOLHER - TAPS


NOTA: 8.
- Honra não conta para nada quando você está diante de garoto morto.

Apesar de parecer um filme realístico, o que temos aqui é um filme que não toma traços reais. Explico: o filme foi todo gravado em locação, no caso uma academia militar, mas sinto falta de algumas coisas que deveriam existir na realidade. Se é uma academia militar, onde estão os cadetes adultos do filme?  O único adulto que aparece é um velho veterano de guerra que parece estar caducando. O que me parece, é que se utilizaram de um fundo realístico para contar uma história fantasiosa. Em especial, uma fantasia sobre a natureza humana de adolescentes jovens demais para saberem em que mundo estão crescendo.
O filme começa com o ano letivo do colégio. Uma parada completa com os alunos e tudo o mais. Todos orgulhosos de si mesmos reverenciando o velho general Harlan Bache, que provavelmente não por coincidência, é interpretado por George C. Scott, que se eternizou no papel de Patton. Ao fim da parada, Bache dá seu discurso onde anuncia que ao fim do período letivo a academia irá fechar suas portas para que o terreno possa ser vendido.
Brian Moreland (Timothy Hutton) não aprova a ideia. Ele é um aluno dedicado que foi indicado para ser o cadete líder no próximo ano. No que deve ser uma das maiores honras da sua curta vida, ele é convidado para jantar o general e ouvir suas histórias de guerra. Até mesmo beber um pouco de brandy com ele. Porém, toda a disciplina, glória e tradição parecem ir por água abaixo com o fechamento da academia. Tudo para construírem um condomínio. Para piorar, Bache é retirado de cena por conta de um incidente envolvendo um jovem da cidade.
Moreland toma todo o inventário de armas e suplementos onde começa um sítio no colégio. Contando com os outros alunos, eles fazem uma ocupação militar com a condição de que a academia não seja fechada. Participam dessa ocupação até mesmo alunos mais novos, com cerca de 10 anos de idade. Eles tem apenas uma lista de exigências que eles acreditam que podem salvar a escola de ser destruída.
A maior parte do tema, é sobre essa resistência, que do lado de fora conta com a oposição de policiais e da guarda nacional. Surgem alguns problemas em relação à história, como: onde estão todos os adultos responsáveis pelo funcionamento da escola? Por que os jovens estudantes teriam acesso á munição de verdade? Por que as pessoas de fora são tão incompetentes para acabar com uma rebelião formada por crianças? Mas a verdade é que isso pouco importa.
Pouco importa porque o filme é na verdade um estudo sobre caráter. Sobre personagens. Sobre adolescente que conseguem distorcer o que lhes foi ensinado para usarem de forma que possam justificar seus próprios atos, não importa quão errados eles pareçam. Por isso temos o ideológico Moreland, seu amigo que só parece estar ao seu lado por se importar com ele, Dwyer (Sean Penn) e um outro que parece estar interessado em uma guerra real, Shawn (Tom Cruise).
Por acompanharmos esses personagens tão de perto, nos aproximamos um pouco desse universo onde eles se encontram. Apesar de não ser fã de militares, reconheço que compartilhei o desespero deles por terem sua escola fechada, pela situação que estão seu amor pelo estabelecimento (que não sei porque nenhum adulto parece ter). Com atuações precisas, o filme me absorveu para dentro desse universo e me fez ficar interessado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

ANÔNIMO - ANONYMOUS


NOTA: 9.
- Embora nossa história esteja chegando ao fim, o poeta não está. Pois seu monumento é eterno. Não de pedra, mas em verso.

O diretor Roland Emerich é mais conhecido por filmes catástrofes, como 2012 e O dia depois de amanhã, e talvez por querer fazer algo diferente que ele tenha financiado inteiramente o filme de seu próprio bolso. Filme que teve um roteiro escrito em 1998, mas que não foi para frente pois nesse ano Shakespeare apaixonado começava a fazer grande sucesso nos cinemas.
Mais um filme sobre Shakespeare, mas diferente de todos os demais. O autor é um dos mais documentados da sua época, talvez por isso pareça que não havia motivos para se duvidar que ele não tenha escrito as peças que foram montadas em seu nome. Talvez se fosse um escritor mediano ou mesmo medíocre, não haveria qualquer controvérsia. Mas acontece que ele é simplesmente o maior escritor de todos os tempos, um dos poucos artistas supremos que a humanidade conheceu.
Poucos não se incomodariam com a fama que o autor teve em sua época, se formos considerar sua árvore genealógica. Além de ser filho de um pobre e analfabeto, era um ator itinerante em um tempo que a profissão era muito mal visto por todos. Talvez seja por isso que tenham dificuldade de acreditar que este homem tenha escrito obras-primas, e por isso surgiram inúmeras teorias de que as peças teriam sido escritas por outra pessoa. Alguns nomes são sugeridos, o filme fala "em nome" de Edward de Vere.
Talvez você não saiba muita coisa sobre William Shakespeare e saiba menos ainda sobre Edward de Vere, mas isso não deve ser um empecilho para assistir a esse filme. Mesmo se este for o caso, você pode assistir a esse filme com um roteiro intrigante, uma direção precisa e ótimos atores ingleses sem saber nada, e ainda assim se entreter e acreditar que Shakespeare é realmente um personagem interessante.
E se for o caso de ser um fã de Shakespeare, aviso que este filme pega pesado com ele. Ele é retratado quase como um idiota. Sem qualquer tipo de brilhantismo, seja como ator ou qualquer outra coisa. Realmente um homem incapaz de poder ter escrito qualquer peça brilhante. Eu sou um fã de Shakespeare, mas para mim se trata de um autor e como tal ele é brilhante nesse filme também. Seja lá por qual nome atenda aqui.
Já Edward de Vere (Rhys Ifans) parece realmente um gênio. Seu modo de vestir, de falar e agir, tudo faz parte de uma pessoa tão impressionante que acreditamos facilmente que ele pertence à realeza. O filme ainda especula que ele possa ter tido um caso com Elizabeth I, com quem teria tido um filho. Isso e muitas outras tramas contra a coroa e diversas conspirações. Apesar de ter tido a maior parte filmada na Alemanha, o filme consegue com propriedade reviver a antiga Londres. Sejam nos bastidores da realeza ou mesmo no teatro construído para o filme. 
Há muitas coisas que tornam este filme uma experiência, mas devo insistir que de Vere não escreveu as peças. Talvez seja pelo fato de ser um fã de Shakespeare, ou talvez por achar a história inacreditável demais. Inclusive, li uma reportagem que indica que pelo menos 10 peças ou mais teriam sido escritas depois da morte de de Vere. A minha teoria é que não acredito em nada desse filme, mas ainda assim é possível assistir e se interessar muito por ele.
Infelizmente, muitos parecem não dar uma chance ao filme, que fracassou nas bilheterias. Tal fracasso fez com que sua estreia fosse constantemente cancelada aqui no Brasil, para nosso azar. Mas em breve, ele finalmente chega às locadoras.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

INQUIETOS - RESTLESS



NOTA: 8.
- Nós temos tão pouco tempo para dizer as coisas que realmente queremos dizer.

Este filme é um interessante relato da relação entre dois jovens intimamente ligados à morte. Enoch (Henry Hopper) é um estranho garoto que tem uma admiração incomum pelo assunto. É a menina, Annabel (Mia Wasikowska), que com muita delicadeza e tato consegue tirar o rapaz desse universo e o trazer de volta para a terra dos vivos. Ainda que, como vamos aprender logo no início do filme, um câncer no cérebro vá levá-la em menos de três meses.
Eles se conhecem em um dos muitos funerais que Enoch costuma frequentar. Ela conhecia o rapaz, vítima de câncer como ela, enquanto ele apenas invade as cerimônias fúnebres. Algo nele desperta a atenção dela. Talvez seja a obsessão de Enoch pela morte. Na primeira cena, vemos o rapaz deitado no chão fazendo uma marca de giz em volta de seu corpo, como a polícia faz em volta de cadáveres em uma cena de crime. Uma cena sem palavras diz quase tudo que precisamos saber sobre o rapaz.
Eles vão se aproximando cada vez mais um do outro, criando uma afeição cada vez maior. Ela lhe pede apenas uma coisa: ele não deve conversar com ela sobre sua doença. Totalmente compreensível, já que é a doença que vai fazer com ela morra em um futuro muito próximo e ela quer aproveitar o pouco que lhe resta da vida. Ela quer simplesmente ignorar sua condição e curtir sua primeira relação romântica de sua curta vida.
Tem um outro personagem importante para a trama que não consigo explicar direito. É um fantasma de um kamikaze japonês que morreu durante a segunda guerra mundial chamado Hiroshi (Ryo Kase), o único amigo de Enoch. Será realmente um fantasma? Um amigo imaginário? Em uma jogada esperta do diretor Gus Van Sant, o filme não explica, apenas usa o personagem como confidente de Enoch, coincidentemente o único do filme que consegue vê-lo.
Annabel também tem uma confidente, sua irmã mais velha que toma conta dela e da mãe alcoólatra, que talvez tenha começado a beber por causa da doença do filme, mas o filme também não explica. Ela é Elizabeth (Schuyler Fisk) e suspeita desse estranho rapaz que se mete em uma relação tão complicada como esta, como não desconfiaria? Ela diz que nunca se deve confiar em um homem, mas Annabel sabe que de alguma forma pode confiar no amor dele.
Todos os personagens conseguem encontrar o tom correto em um filme como esse. Ninguém se "esforça" demais para tentar passar alguma emoção. Não há uma alma desesperada e extremamente chorosa. Todos parecem em paz de uma maneira melancólica. Apesar de parecer que todos deveriam estar sofrendo muito, o tom dá uma sensação interessante. E acredito que até mesmo mais triste do que seria se todos estivessem em desespero.
Assim como a própria doença é tratada em um tom diferente. Ela tem um cabelo bem curto, o que pode indicar que tenha feito quimioterapia, mas todos os sintomas e problemas da doença só vão aparecer no final do filme, ou sequer vão aparecer. Toda a doença, ainda que sirva como ponto de referência da relação dos dois, fica apenas como pano de fundo do filme. Ela parece muito bem (mas muito bem mesmo) para um doente terminal.
E isso em nada atrapalha o filme. É um filme sobre escapismo e consolação. Em uma determinada parte, me lembrou Love Story, onde uma doença eleva um romance que parecia ser comum. Cria uma história de superação, mesmo que mantenha a triste realidade da doença de fora das telas.

sábado, 7 de abril de 2012

PINA


NOTA: 9.

Reconheço que não conhecia muito do trabalho da amada coreógrafa alemã Pina Bausch, cujo trabalho é diferente de tudo que já havia visto. Trabalho que incorpora de maneira brilhante terra, água, rochas e as ruas da cidade, tudo com música e movimentos brilhantes. Wim Wenders, diretor do filme, parece ser um dos grandes admiradores de Pina, que descobriu que tinha cancêr e morreu pouco antes do início das filmagens. 
Talvez o ideal fosse que a voz dela permeasse o documentário, mas ao invés disso parece cercar o vazio que ficou com sua ausência. Da sua presença, ficou apenas algumas filmagens antigas. Para manter essa presença mais forte, ficam as memórias dos dançarinos que trabalhavam com ela. São esses comentários que nos fazem perceber a extensão da adoração por essa mulher. Sempre que se ouve sobre ela, as vozes parecem vir em forma de reverência. Até mesmo podemos sentir que ela morreu pouco antes pelo lamento e dor com que falam.
Claro que não os vemos realmente falar. Wenders se utiliza de uma tática muito mais sutil. Ele dá closes nos rostos dos bailarinos enquanto ouvimos suas vozes, em alemão, inglês, francês e até mesmo em português, dependendo da nacionalidade do entrevistado. Como se fossem um pensamento talvez. E cada um deles reage de forma diferente, uns olham para a câmera, outros parecem procurar um ponto distante. 
Agora me encontro em dificuldades de descrever as danças que vemos nas telas. Posso descrever o que vi, mas não consigo explicar o que senti. São quatro coreografias diferentes que se intercalam durante o filme. Nenhuma parece ir do início ao fim. Uma delas, a que achei a mais interessante, "Cafe Mueller", foi usada por Almodovar no filme Fale com ela
Wenders falou bastante sobre seu uso da tecnologia 3D para realizar o filme. Como outros gênios do cinema, Spielberg, Scorcese e Herzog, por exemplo, ele só se utiliza agora da tecnologia quando entende o porquê de usá-la e como. Ele posiciona a câmera entre os dançarinos de forma a inserir o público dentro de tudo que está acontecendo no palco. Para maximizar o efeito, algumas vezes ele até mesmo coloca a câmera fazendo o ponto de vista de um deles. 
O efeito é muito interessante, mas me levanta uma questão: será que Pina aprovaria esse tipo de filmagem? Quando alguém cria uma coreografia, o faz pensando em um único ponto de vista: o da audiência. O que acharia da imersão da platéia, coisa que não deve ter pensado enquanto criava sua arte? Infelizmente não saberemos.
O que nos resta agora é observar a homenagem. Todos os dançarinos dançaram todas as coreografia inúmeras vezes. A diferença é que todas as vezes foram junto com Pina, pela primeira vez eles tem que dançar por conta própria. Uma bela homenagem.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

UM MÉTODO PERIGOSO - A DANGEROUS METHOD


NOTA: 9.
- Algumas vezes você tem que fazer alguma coisa indesculpável, só para ser capaz de continuar vivendo.

Pelo menos boa parte da influência da pscicologia até hoje se dá por causa de seus dois criadores: Carl Jung e Sigmund Freud. Duas mentes tão brilhantes na criação de suas teorias sobre os mistérios da mente humana e principalmente na exposição e validação das mesmas. Ponham os dois frente a frente e pode-se achar que a conversa fica tão complicada e que não se poderá entender nada, mas a verdade é que eles expõem tudo com tanta clareza que não só se compreende do que estão falando como até identificamos alguém que tem o mesmo comportamento.
Apesar de ter sido "atualizada" nos tempos de hoje, desde aquele tempo que a pscologia se tornou parte do nosso cotidiano. E este filme conta os poucos anos em que grande parte desse campo foi inventado (com o perdão da palavra). Especialmente pela associação entre Sigmund Freud (Viggo Mortensen), Carl Jung (Michael Fassbender) e Sabina Spielrein (Keira Knightley), esta última que se tornou paciente e depois colega de profissão.
Através de muitos diálogos, o que não costuma ser comum nos filmes do diretor David Cronenberg, o filme mostra com muita habilidade cada teoria sendo construída a partir das experiências de cada personagem. Tudo de forma sutil graças às atuações de um elenco muito afiado. Mortensen faz de seu Freud um sujeito contido e extremamente analítico. Jung de Fassbender é um sujeito mais imprevisível tanto nas suas teorias quanto em suas próprias ações.
O filme começa em 1904, com a chegada de Sabina à clínica onde Jung trabalha. Ela não chega em silêncio, chega gritando e lutando contra as enfermeiras que tentam contê-la. Mesmo depois de sua chegada, não parece se acomodar. Somente depois de usar os métodos de Freud, é que Jung consegue acalmá-la, chegar ao centro do problema e até mesmo liberar uma mente brilhante de onde só parecia haver caos. Depois disso, é que Jung vai finalmente conhecer o criador das teorias que está usando. É aí que começam as conversas e a amizade entre os dois gênios.
Sabina finalmente consegue controlar seus impulsos e até mesmo se formar em psicologia. O interesse entre ela e Jung vai além de interesse profissional ou de uma amizade, e apesar de amar sua mulher ele acaba tendo um caso com ela. Quando a amizade entre os dois teóricos vai decaindo, Freud usa esse romance contra Jung. A partir daqui, o que parece vermos é que grande parte das teorias é criada a partir  da necessidade de virar uma arma contra o outro. As únicas teorias isentas parecem vir de Sabina que é pega no fogo cruzado dos dois.
Apesar do péssimo poster, que parece indicar um triângulo amoroso entre os três, o filme não se trata disso. Menos ainda, pela maior exposição de Knightley tem no poster, se trata da vida dela. A história é sobre a relação entre Freud e Jung, e talvez os dois poderiam criar teorias interessantes sobre quem criou a arte.
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