terça-feira, 14 de junho de 2011

O EXPRESSO DA MEIA-NOITE


NOTA: 10.
- O que é um crime? O que é punição? Parece variar de um tempo para o outro, de um lugar para o outro. O que é legal hoje se torna ilegal amanhã porque a sociedade assim determina, e o que era ilegal ontem se torna legal hoje porque todo mundo está fazendo e não dá para prender todo mundo. Eu não estou dizendo que está certo ou errado, só estou dizendo que é assim que funciona. 

Lançado no final dos anos 1970, este filme de Alan Parker é, provavelmente, o filme mais perturbador sobre uma prisão de um país de terceiro mundo. Ou de qualquer outro país que já tenha sido retratado nos cinemas. É brutal, impressionante e que não perdeu nada da sua força com o passar das décadas. Também é muito polêmico, sendo ovacionado no festival de Cannes enquanto era extremamente criticado pelos turcos que taxaram o filme de xenófobo e baniram do país pela forma como foram retratados. Parker diria depois, que somente quis evitar os clichés de ter bons e maus em um mesmo lugar. 
O filme é baseado na história de Billy Hayes (Brad Davis), em uma sequência inicial impressionante onde é preso no aeroporto turco quando tentava sair do país com dois quilos de erva preso à sua barriga. A verdade é que ele não fazia ideia da besteira que estava fazendo, para servir de exemplo é condenado e posto em uma prisão horrível, onde mesmo depois de cumprir mais de três anos da sua sentença, tem sua pena aumentada em mais trinta anos. Um exemplo e tanto.
O nome do filme é uma alusão ao apelido dado pelos prisioneiros sobre a fuga da prisão. Durante todo o filme, só o que vemos é Hayes ser torturado, massacrado e até mesmo estuprado pelos guardas da prisão. Depois que um grupo que tenta fugir é entregue por um outro prisioneiro, ele morde e arranca a língua dele. Para piorar ainda mais sua situação, é posto em algo que deveria ser um manicômio. O que acompanhamos por todo o filme não é um homem aprisionado, é a destruição dele enquanto ser humano. É a transformação de um homem em um animal. Sua única saída possível pode ser o tal expresso mesmo.
E a maior parte da força do filme, que mostra toda a transformação desse personagem é por causa do talento de Davis no papel principal. Ele era até então, um semi-desconhecido no cinema vindo da televisão. O fato de ser desconhecido deu mais força ainda ao seu papel, e mesmo hoje continua já que não é tão conhecido assim atualmente. Sua transformação durante o período da prisão é a coisa mais impressionante do filme, o que me faz pensar que é uma das atuações mais subestimadas da história do cinema, que a academia sequer considerou com uma indicação. Uma pena.
Este é o melhor filme de Alan Parker, que tem muitos outros bons filmes em seu currículo. Além de consagrar o diretor, foi também o inicio da carreira de Oliver Stone, que levou o Oscar de melhor roteiro e o habilitaria a dirigir seus próprios filmes em pouco tempo. O filme é também uma experiência que ainda hoje não conseguiu ser equiparada. Tem momentos de violência extrema, mas o que realmente choca é a violência psicológica. Ainda que o próprio Billy Hayes tenha dito que muito do filme tenha sido inventado, isso não tira a sua força. Para mim o que interessa é que é um filme muito forte e, principalmente, muito bom mesmo.

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