terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CRASH - NO LIMITE


NOTA: 10.
- É a sensação do tato. Em qualquer cidade, você encosta em alguém, alguém esbarra em você. Em Los Angeles, ninguém te encosta. Estamos sempre atrás de metal e vidro. Acho que sentimos tanta falta do toque, que batemos uns nos outros só para sentir algo.

Geralmente, os filmes contam histórias sobre uma ou duas pessoas, mas isso não é uma regra. Algumas vezes, um filme conta uma história sobre um lugar. Um evento ou mesmo um sentimento. Foi o que Robert Altman fez ao contar a história musical de Nashville ou o que Richard Curtis fez mais popularmente contando histórias de amor em Simplesmente amor. A fórmula é a mesma em todos esses casos: pessoas, diferentes apresentam diferentes pontos de vista sobre o mesmo tema. Elas não precisam se conhecer ou mesmo se encontrar. Um filme assim que seja bom é difícil de encontrar.
Outro tipo de filme que surpreende, são projetos sem distribuidoras e que rodam festivais para conseguir alguém que se interesse pelo filme. Algumas vezes, esses filmes até fazem um sucesso comercial, comparado com seu orçamento, mas dificilmente conseguem sucesso de público e crítica.
Só esses dois motivos já podem ser bons o suficientes para elogiar esse filme. Sim, é um filme com histórias paralelas que falam sempre sobre a intolerância. Além disso, é um filme feito com meros 6 milhões de dólares. Mesmo depois de vencer o Oscar de roteiro com Menina de ouro, Paul Haggis teve dificuldades de realizar esse filme, a ponto de ter que usar sua casa e seu carro nas filmagens. A Lionsgate comprou os direitos de distribuição do filme no Festival de Toronto, e tornou este, o primeiro filme comprado em um festival a ganhar um Oscar.
Um dos maiores trunfos do filme é sua imprevisibilidade. Qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento. Poucos filmes têm essa capacidade de nos surpreender. Não sabemos para onde vamos, o que vai acontecer e muito menos quais os destinos dos personagens. E cada personagem, individualmente é tão bem trabalhado, tão bem desenvolvido, que nos importamos com cada um deles. Mesmo que não seja um "mocinho".
Não que existam "mocinhos" nesse filme. Ninguém é inteiramente inocente. Ou inteiramente culpado. De qualquer forma, com certeza ninguém aqui é bonzinho. Há momentos em que os personagens fazem coisas boas e há momentos que eles tomam atitudes contrárias. Algumas vezes, até controversas.
Vejamos por exemplo, Matt Dillon interpretando o policial John Ryan (o melhor personagem do filme e provavelmente a melhor interpretação dele na vida). Num primeiro momento, ele pára um carro porque uma mulher de pele mais clara está realizando sexo oral no motorista negro. Fossem dois negros ou dois brancos, talvez ele não parasse o carro, mas ele parou esse carro. Durante a revista, ele aproveita para pegar nas partes íntimas da mulher. Depois o vemos sofrendo em casa com o pai doente sem conseguir um tratamento médico adequado. Quando está em posição de poder, ele se aproveita, quando a situação é inversa ele apenas sofre sem nada poder fazer. Nada é o que parece. E mesmo depois ele tem a chance de redenção. Somente alguns tem essa chance no filme.
E as pessoas dizem o que pensam, sem os filtros sociais que estamos acostumados. Não importa onde estejam ou na presença de quem. O iraniano é chamado de Osama na loja de armas (ele nem é árabe), ao mesmo tempo chama o latino de membro de gangue (assim como a personagem de Sandra Bullock) e por aí vai. Em um determinado momento, William Fitchner vira para Don Cheadle e dispara um "Fuck black people." Não há meias palavras.
De qualquer forma, é um retrato dos preconceitos da nossa sociedade. Não apenas da americana, mas de grande parte do mundo. E isso faz com que ele se torne um filme reflexivo. Poucos filmes podem influenciar as pessoas, gostaria de acreditar que este tenha esse poder. Que possa ser um pequeno passo para uma sociedade mais tolerante,

6 comentários:

  1. Excelente, parabens e me ajudou muito, vou indicar o blog.

    Continue assim.

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  2. Obrigado, Marconildo.

    Por comentários assim que continuo fazendo.

    Abraços.

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  3. OBrigado, chegou no assunto que faltava, os tipos detalhados de preconceitos, eu precisava so dissoo..

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