terça-feira, 31 de agosto de 2010

ESPECIAL GODARD: ALPHAVILLE


NOTA: 9.
"Homens do seu tipo vão logo se tornar extintos. Você vai se tornar algo pior que morto. Vai se tornar uma lenda. "Professor Von Braun

Esta foi a primeira incursão do diretor na ficção científica, mas lembrando que o diretor sempre procurava manter seus orçamentos modestos depois da empreitada de O desprezo. Então, nada de grandes efeitos especiais e visual futurístico. Apesar do tema, este continua sendo um filme de Godard. Novamente ele conta com uma presença americana, Eddie Constantine, ator de filmes B de Hollywood e sua garota-símbolo, Anna Karina, para contar a história.
Constantine interpreta Lemmy Caution, uma espécie de espião que vai para a cidade de Alphaville pra cumprir uma missão de eliminar ou capturar o Professor Von Braun. O personagem Caution é emprestado de uma série de filmes populares na França, sempre interpretado pelo mesmo ator. É como se Godard tivesse apenas dando sequência a uma série de filmes. Ele ainda dirigiria outro filme com o personagem em 1991, já o ator ficaria preso a esse papel pelo resto da sua vida.
Alphaville é uma das cidades mais estéreis e opressores que o cinema já viu. O professor Von Braun criou um computador que dita como todas as pessoas da cidade devem viver. Claro que computadores não entendem de emoções, então todas as emoções são proibidas. Em uma cena, um homem pergunta se a personagem de Anna Karina, a filha de Von Braun está chorando, ela responde que não pois é proibido. Em todo lugar há uma bíblia, que na verdade é um dicionário que é constantemente atualizado. Todo dia ele tem palavras cortadas que foram consideradas proibidas.
Vale lembrar que Godard ainda não era o radical político que se tornaria mais tarde, por isso esse filme foi selecionado. É o filme mais político do diretor antes de chegar na fase realmente política. O personagem Caution está constantemente contra a política daquele lugar. "Nunca me tornarei um de vocês" ele exclama, e se vira contra tudo que aquele lugar representa. Talvez por isso o nome do professor pareça tão alemão. E também não por acaso somente as pessoas de fora achem que há algo de errado, os moradores não tem reclamações.
Infelizmente não se trata de um dos pontos altos da carreira. Faltam aquelas cenas maravilhosas que nos acostumamos a ver em seus filmes. Aqui, a única cena realmente marcante é quando Caution observa toda uma multidão de pessoas que ficam vendo execuções de pessoas que agiram de maneira "ilógica", como chorar no enterro da esposa e coisas do gênero. Tirando essa cena, não há outras que façam com que o filme seja tão marcante quantos os outros. Um detalhe importante a observar é a capacidade de transformar locações em Paris em um cenário futurista. Quase irreconhecível. Uma verdadeira mostra de que se pode fazer muito com pouco.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ESPECIAL GODARD: O DESPREZO


NOTA: 10.
"Eu gosto de Deuses. Eu gosto deles e muito. Eu sei exatamente como eles se sentem." Jerry Prokosch

A primeira cena do filme mostra uma mulher andando em direção à câmera. Ao seu lado, uma outra câmera acompanha a caminhada da moça em um travelling. Quando a câmera chega em frente da onde estamos vendo a cena sendo filmada, o operador a gira e ambas ficam frente a frente. Este não é apenas um filme, é a maneira de Godard mostrar que o que estamos para ver é sobre o processo de fazer filmes. O tão famoso "filmes sobre filmes", mas com a mestria de Godard.
Como de costume, nos filmes de Godard, é um filme de poucos personagens. O casal é Paul Javal (Michel Piccoli) e Camille Javal (Brigitte Bardot, no auge de sua beleza). Paul é contratado pelo produtor Jerry Prokosch (Jack Palance) para reescrever o roteiro do filme que está sendo dirigido pelo lendário diretor alemão Fritz Lang (interpretado por ele mesmo). O filme que estão fazendo é Odysseus, que deverá contar a história da Odisseia, de Homero. O filme é baseado no livro de Alberto Moravia, um livro que conta a adaptação de um livro para os cinemas.
Se trata de um filme globalizado: o produtor é americano, o diretor alemão e o roteirista francês. Claro que eles não podem concordar. Lang quer fazer um filme de arte, Prokosch quer um filme que atraia muita gente e Paul quer apenas dinheiro para acabar de pagar seu recém adquirido apartamento. Depois de uma breve reunião, Prokosch dá uma cantada na mulher de Paul, que o ignora mas é incentivada pelo marido a acompanhar o produtor.
Essa é a tônica do filme, Paul deliberadamente lança a mulher em cima do produtor. Ela nem ao menos sabe o porquê. Estaria o marido tentando forçar um interesse em contratá-lo? Com essa atitude, Camille começa a criar um desprezo pelo marido. Isso em uma discussão que os acompanha por toda a rotina deles no apartamento e que se acompanha durante a viagem do casal pela locação do filme em Capri. Ela despreza e o marido e ele quer saber o porquê. Mesmo quando ela o pega flertando com a secretária do produtor, ela parece não se importar mais.
Com certeza é um filme belíssimo, mas não é umas das obras-primas de Godard. Apesar das boas perfomances de Bardot e Piccoli, além da presença marcante de Lang, quase uma força da natureza, Palance destoa do resto do elenco. Ele não convence como o produtor prepotente. Além disso, a narrativa parece um pouco fragmentada, como se o diretor não estivesse muito à vontade com o material que está filmando.
O que pode ser compreensível, já que este é o primeiro filme de grande orçamento dele, o que refletiu em toda a sua carreira posteriormente, já que o diretor não mais aceitou projetos dessa proporção. Muitos interpretam um paralelo entre o filme dentro do filme e os personagens, e isso até mesmo acontece mas timidamente, como quando em uma conversa com Lang, Paul diz porque Penélope se ressente de Odisseu, uma explicação que serve para os problemas que está tendo com a mulher. Mas o filme também pode ser um paralelo entre Godard. Ele seria Lang, lutando contra seu produtor.
Os produtores teriam reclamado que Godard filmou com Bardot sem uma cena de nudez. Godard filmou lindas cenas da atriz deitada sem mostrar nada dela. Entregou o que os produtores queriam, mas de seu jeito. Sem eroticismo. Ele também foi obrigado a filmar em cinemascope, e ele coloca Lang em uma cena em que diz: "Cinemascope é bom para cobras e caixões, não para pessoas." É sua forma de protesto. Dentro do filme. Infelizmente Godard ficou preso a essas convenções que não consegue ser ele mesmo como diretor. Este é, talvez, seu filme mais convencional dessa fase, mas ainda assim um filme sensacional.

domingo, 29 de agosto de 2010

ESPECIAL GODARD: VIVER A VIDA

NOTA: 100.
"Um momento de pensamento só pode ser captado por palavras." O filósofo

Este talvez seja o melhor filme de Godard. Muitos vão discordar. Ou por não terem gostado do filme ou por simplesmente gostarem mais de algum outro filme dele. Susan Sontag chegaria a declarar que este filme é a melhor, mais maravilhosa e bonita obra de arte que ela já tinha presenciado. Alguns dizem que o diretor deveria procurar se aprofundar mais em assuntos mais relevantes, eu gosto de ver como ele consegue pegar assuntos que as pessoas podem considerar banais e realizar filmes maravilhosos. Como já disse anteriormente, não é a história, mas como ela é contada.
Novamente Anna Karina estrela o filme. Dessa vez ela interpreta Nana, uma típica parisiense. Exceto que não há nada típico em Nana. Anna Karina é uma mulher belíssima que já chamaria atenção normalmente. O filme abre com closes do rosto da atriz. Virada para um lado, de frente e virada para o outro lado. Tal qual os criminosos têm suas fotos tiradas. Cada vez que o ângulo muda, a música entra e antes que a tomada termine ela é abruptamente cortada. Talvez seja a maneira de dizer que a música não consegue fazer jus a beleza daquela mulher. Ou que talvez não possa lhe dar profundidade.
Ela começa o filme conversando com um homem. Pela conversa, descobrimos que ele é marido dela e que eles têm uma filha. Eles não estão mais juntos. Ela gosta dele? Se interessa pela filha? O filme não diz nada sobre isso. Se ela se importa não demonstra. Há apenas um cena em que ela demonstra sentimentos. É quando ela vai assistir ao filme Joana D'Arc e assiste a cena onde a protagonista está sendo julgada pelos homens da igreja. Talvez seja mais um caso onde a protagonista se importa apenas com ela mesma e se identifica com aquela cena.
Ela nunca parece ter dinheiro. Aparece trabalhando em uma loja de discos, mas pede a uma colega dinheiro emprestado por estar dura. Ela volta para o apartamento mas a senhoria não a deixa entrar. Tudo que ela faz é pago por homens. Jogar, ir para o cinema, cigarros e beber. Ela acaba se acostumando com isso. Ela anda por uma rua com prostitutas e um homem lhe convida. Ela aceita. Na França, a prostituição também é chamado de "a vida", o que pode explicar o título do filme.
Acompanhado de Raul Coutard, seu diretor de fotografia, Godard acompanha a vida dessa mulher com um ar de voyerismo. A câmera não é apenas para gravar imagens, a câmera é uma presença. A presença de qualquer pessoa que queira acompanhar a vida daquela mulher. Somo nós que a estamos acompanhando. Dizia-se que ele "girava a câmera em 360º, duas vezes, e depois a movia na direção oposta só pra mostrar que sabia o que estava fazendo". Aqui é Godard mostrando que sabe o que está fazendo. É só observar a cena onde Nana dança em volta de mesas de sinuca e comprovar. Mais uma obra de gênio.

sábado, 28 de agosto de 2010

ESPECIAL GODARD: UMA MULHER É UMA MULHER


NOTA: 9.
"Não sei se é uma comédia ou um drama, mas de qualquer jeito é uma obra-prima." Angela

Logo depois de sua estréia sensacional, Godard realizou seu filme seguinte estrelado por sua esposa, Anna Karina, Jean-Claude Brialy e novamente Belmondo (que ainda repetiria a parceria outras vezes). Aqui, o filme é declarado como um musical, mas em nada lembra os tradicionais musicais americanos, a próxima mú. E com todo o respeito a sica no filme é usada para o pastiche. Karina que me perdoe, mas sua cena cantando no clube onde trabalha não tem nada de memorável. A atriz encontraria mesmo suas cenas memoráveis em seu próximo filme, Viver a vida, próximo filme do diretor que compõe esta lista.
Karina é Angela, uma stripper que mora com seu namorado, Émile (Brialy). O filme insinua que os dois não são casados, apesar de viverem como tal. Um dia ela chega de seu trabalho e avisa que quer ter um filho. Ele não quer e ela quer. O amigo dele, Alfred (Belmondo), não se incomodaria nem um pouco de engravidá-la. Na verdade, Alfred não esconde nem um pouco que cobiça a mulher do amigo, e ela chega a se aproveitar disso para colocar ciúmes em seu namorado.
Godard declararia que este seria seu "primeiro filme de verdade", como se Acossado fosse uma prévia do que estava para vir. Com certeza ele alcançou resultados tão bons quanto seu primeiro filme em filmes posteriores, mas não foi aqui. As coragens narrativas de Godard ainda estão aqui. Algumas até mesmo são ótimas. Aqui ele já começava a dominar melhor as técnicas narrativas do cinema. A maior prova disso são as cenas filmadas no interior do apartamento do casal. Somente Godard saberia filmar como Godard.
Talvez o sucesso repentino tenha subido a cabeça do diretor. Talvez ele tenha ficado muito pretencioso. De qualquer forma este ainda é um grande filme. E se isso apenas não conta, este é um grande filme de GODARD, e isso deve contar muita coisa. Ainda que tenha suas falhas, é um filme de narrativa maravilhosa. Não tem a perfeição de outros trabalhos do diretor, mas esses detalhes devem contar para muita coisa.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESPECIAL GODARD: ACOSSADO

Quem acompanha o site há algum tempo, sabe que costumo fazer algo diferente para comemorar uma "data especial". Foi assim na postagem de número 100 e se repetiu na postagem que comemorava um ano de blog. A ocasião agora é a chegada da postagem de número 200. Na verdade, esta será dividida em 10 partes. Estamos na postagem 191, e a 10ª parte comemorará a postagem  200, sendo um especial dos 10 melhores filmes, na minha opinião, do diretor francês Jean-Luc Godard. Como tenho observado, muitos conhecem de nome mas poucos realmente viram seus filmes. Quem quiser começar a ver, segue um pequeno roteiro que poder ajudar a conhecer este maravilhoso, e revolucionário, diretor.
Também aproveitando a data, alterei algumas coisas no blog. Além do visual mais claro, embaixo de cada postagem os leitores podem marcaram se gostaram ou não da resenha, ou se simplesmente  a acharam inútil. Assim, vamos tentando tornar o blog cada vez melhor. Por isso, quem quiser pode usar a parte de comentários para opinar, dar sugestões ou críticas. Obrigado a todos que acompanham.


NOTA: 100.
"Não é preciso mentir. É como poker, a verdade é melhor. Os outros vão pensar que ainda está blefando, então você vence." Michel Poiccard

Foi nos anos 1960 que estourou um importante movimento cinematográfico mundial: a nouvelle vague francesa. Os diretores eram críticos de cinema que escreviam para a revista Cahiers du cinéma e contava com Truffaut, Chabrol entre outros. Godard era o mais novo, seja em idade quanto em experiência de cinema. Como os outros da "nova onda", ele amava o cinema americano, tanto que resolveu fazer um, só que acabou sendo melhor do que qualquer filme americano que estava sendo feito na época.
A história contada é a relação entre Michel (Jean-Paul Belmondo) e uma americana expatriada (é comum a presença de americanos em seus filmes) , Patricia (Jean Seberg). Ele é um ladrão de carros e ela vende jornais na rua. Em um de seus "trabalhos", Michel mata um policial e acaba sendo procurado pela polícia. Conforme o filme vai se desenrolando, vemos como o cerco se fecha ao seu redor cada vez mais. Os dois se juntam pelo desejo que ambos têm de partir de Paris. De ir para um lugar onde eles possam ter um novo começo.
O que eles têm em comum? Uma incrível paixão por eles mesmos. Raramente o cinema viu personagens tão cínicos em sua história. Em uma determinada parte Michel diz "Quando estamos juntos, eu falo de mim e você de você, quando deveríamos falar de nós." Eles são amorais e não amorosos, também inconsequentes como um casal de adolescentes. Eles tem aquela da coisa da juventude. Michel se envolve em duas mortes, e em nenhum dos casos a arma pertencia a ele. Aconteceu de nesses momento críticos, ele ter uma arma. Em um caso achada, em outro emprestada.
Michel é claramente inspirado nos papéis que Bogart interpretava. Em frente do espelho ele fica sempre tentando imitar as caretas que fazia nos filmes. Sempre de chapéu e um cigarro no canto da boca. Ele somente tira um cigarro para colocar outro aceso. E a repetição da marca de Bogart: passar o polegar por cima dos lábios. Então, basicamente o que Godard fez foi transformar o personagem policial de Bogart em diversos filmes e transformá-lo em um vilão. O resultado é maravilhoso.
Esse é o trunfo de Godard. Não é a história, é como ele a conta. Se comentei na resenha anterior sobre as coragens narrativas de Resnais, não posso deixar de declarar que Godard foi um dos mais corajosos. Seus cortes rápidos, seus cartazes e letreiros eletrônicos inseridos no filme que deixam pistas para a platéia do que vai acontecer. Tudo no filme tem um cheiro de novo e moderno, tanto que até hoje ele pode ser visto e apreciado como se não tivesse envelhecido.
Lembro que escreveram que antes o cinema só tinha conhecido dois grandes momentos revolucionários: O nascimento de uma nação (D. W. Grifith) e Cidadão Kane (Orson Welles). Godard estava, na época, protagonizando o terceiro. Era o início do cinema moderno. Desde Kane nenhum filme tinha influenciado tanta gente no cinema. Godard reverenciava o cinema americano e depois o cinema americano reverenciaria Godard, no final dos anos 1960, especialmente com Uma rajada de balas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

ERVAS DANINHAS


NOTA: 8.
"Não estou surpreso. Você me desapontou." Georges Palet

Alan Resnais é um diretor que está na ativa há muitos anos. Ele começou a aparecer de forma brilhante em 1959, com Hiroshima, mon amour e dois anos depois com sua obra prima (na minha humilde opinião), O ano passado em Marienbad. Hoje, o diretor tem 88 anos e continua filmando. Em 2006 ele lançou Medos privados em lugares públicos e ano passado lançou este filme. E não pára por aí, está em pré produção de um novo filme para ser lançado em 2011.
Uma mulher está andando na rua e tem sua bolsa roubada. Ela é Marguerite (Sabine Azema). Sua catrteira é encontrada por Georges Palet (Andre Dussollier). Ele primeiro tenta devolver pessoalmente a carteira, como não consegue, entrega para a polícia onde deixa seu nome e telefone. Georges sente uma necessidade de conhecer aquela mulher, não sabe porquê. Ele descobre , através de documentos dentro da carteira, que ela é solteira e que é piloto de avião. Talvez seja a fixação de georges por avião que lhe atraia por essa mulher.
Marguerite liga para lhe agradecer por ter devolvido a carteira. Georges pergunta se ela não deseja lhe encontrar e ela diz que não. Por que iria? Mas a coisa não pára por aí. Georges se torna obcecado por essa mulher que nunca viu. Lhe escreve cartas e liga para a casa dela. Quando ela lhe diz para parar ele lhe fura os pneus do carro. Finalmente ela chama a polícia. Esses eventos vão aproximando e afastando os personagens, e assim conhecemos a mulher de Georges e a amiga de Marguerite. Mesmo depois de toda essa confusão, Marguerite também se interessa por Georges, a amiga tenta ajudar e a mulher parece aceitar mais um provável caso do marido. Nada é simples em um filme de Resnais.
Resnais filma com uma coragem narrativa que impressiona. O filme é narrado, mas deve ser assim. Só com narração para entendermos que as "coincidências" do filme não são coincidências assim. O roubo da carteira e o fato de Georges ter encontrado, são eventos que estão ligados por algum evento cósmico. Estava destinado a acontecer. A câmera passeia por detalhes que podem parecer banais a uma primeira vista, mas apenas parecem. É de uma coragem que parece caber apenas a um iniciante, mas é a voz da experiência que comanda o filme.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

LUA NOVA


NOTA: 3.
"Você já teve um segredo que não pudesse contar a ninguém?" Jacob Black

Filmes com adolescentes costumam ser alegres e divertidos. Em alguns casos, eles até protagonizam filmes de terror. Mas não os adolescentes da saga Crepúsculo, estes adolescentes são chatos de doer. O filme muda mas nada muda: Edward (Pattinson, que parece ter saído do museu de cera) continua sendo um homem centenário em conflito por se apaixonar por uma humana e Bella (Stewart) continua depressiva.
Bella continua morando com seu pai e namorando Edward. O filme começa em seu aniversário de 18 anos e durante uma comemoração de seu aniversário se corta com o papel que embrulha o presente (!!!) que ganhou. Jasper, um dos vampiros da família de Edward, ao sentir o cheiro de sangue parte em direção dela e Edward, super protetor, a arremessa longe contra um espelho para protegê-la. O que começou com um corte mínimo se torna um ferimento que precisa ser suturado e assim, Edward decide se afastar da mocinha.
Depressiva por natureza, Bella protagoniza uma cena em que meses passam e ela fica sentada olhando a janela do seu quarto. E de noite sofre de dores horríveis por estar longe do seu amado. Isso sempre sendo vigiada pelo pai, que a deixa de castigo pelo resto da vida mas nunca está presente para impedir que ela ande de moto ou pule de penhascos ou mesmo que a impeça de viajar para Itália. Grande pai. Ah, sim. Bella se envolve nesses perigos, porque assim consegue ver a imagem de Edward. Que dramático.
A novidade nesse filme é a disputa de Jacob e Edward pelo amor de Bella. Se antes já me perguntava o que um tinha visto nela, agora são dois que inxplicavelmente se apaixonam por essa mocinha sem graça. Para realçar a beleza dos dois, são usados estilos distintos: Edward aparece em uma longa cena em câmera lenta para as meninas admirarem sua beleza. Ele pode ter todo o tempo do mundo, mas eu não tenho. Já Jacob se contenta em aparecer em praticamente todas as suas cenas sem camisa.
É um filme para meninas adolescentes e meninas adolescentes apenas. Assim como seu filme antecessor. Ao contrário de Harry Potter, esse filme não apresenta nenhuma melhora. É apenas mais do mesmo e tentando copiar o final de Romeu e Julieta e deixá-lo mais alegre para as meninas citadas. É uma pena ver desperdícios de talentos como Dakota Fanning e principalmente Michael Sheen em um filme como esse.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A ORIGEM


NOTA: 10.
"Sonhos parecem reais enquanto estamos nele. É só quando acordamos que nos damos conta que algo estava estranho." Cobb

Diz-se que (o diretor e roteirista) Christopher Nolan passou 8 anos escrevendo o roteiro deste filme. A história não parece improvável se analisarmos a carreira que ele construiu. Nolan estourou quando lançou Amnésia, depois lançou Insônia antes de assumir a franquia de Batman. Ele ainda intercala cada filme da franquia com outro. Primeiro com O grande truque agora com A origem. Cada filme lançado mais ambicioso que seu antecessor, como se ele estivesse se preparando para este momento.
Alguns podem reclamar que é um filme ambicioso demais, mas eu discordo. Nem todo filme precisa ser despretencioso, ainda mais quando se trata de um diretor que tem algo a dizer. E se tem alguém hoje que tem algo a dizer é ele. E ele se preparou para chegar a esse ponto, o ponto de poder contar com dois vencedores de Oscar (Michael Caine e Marion Cotillard) e cinco indicados (Leonardo DiCaprio, Tom Berenger, Pete Postlethwaite, Ken Watanabe e Ellen Paige) para compor seu elenco.
DiCaprio vive Cobb, um especialista em entrar nos sonhos alheios para roubar informações. Ele se envolve em um trabalho para roubar informações de Saito (Watanabe), mas não se dá bem e acaba mais encrencado do que já estava, afinal ele já tem um problema que o impede de voltar aos EUA. Saito lhe propõe um "último trabalho". Ele pede que Cobb insira uma idéia na mente de seu concorrente, Fischer (Cillian Murphy), em troca todos as acusações serão retiradas. Apesar de todos dizerem que é impossível, Cobb diz que pode fazer.
Assim ele começa a juntar sua equipe: seu parceiro de sempre Arthur (Joseph Gordon-Levitt, ótimo), Eames (Tom Hardy), que personifica pessoas em sonhos, Yusuf (Dileep Rao), um químico e Ariadne (Page), que deve construir o lugar onde o sonho se passará, a arquiteta. Não por acaso, Ariadne é também o nome da personagem mitológica que ajudou Teseu a sair do labirinto do minotauro. Eles devem ajudar Cobb a plantar a idéia, o que por si só já é complicado por não saberem o que encontrarão na cabeça dele, além disso há a presença de Mal (Cotillard), que invade sonhos também e sempre atrapalha Cobb.
Mais que isso não vou dizer sobre o filme, para não estragar o prazer de assistí-lo. Parece complicado, mas é muito mais fácil assistir do que explicar o filme, tal qual um sonho, quando faz sentido quando você está presente. Por isso, até mesmo acredito que seja difícil de estragar o prazer de assistir o filme. Mesmo que contasse o final, ainda assim ele não perderia sua graça. Ele parece blindado contra isso. Em parte, talvez, por parecer tão original quanto não se via um filme em muitos e muitos anos.
De qualquer forma, se quer um entretenimento inteligente, esse é o seu filme. E cuidado para não perder um segundo do filme, há detalhes vitais que não vai querer perder. Uma jóia rara que Nolan esculpiu que vai além de todos os seus trabalhos anteriores. Ainda melhor porque ele não sucumbiu aos efeitos 3D. Está ótimo do jeito que está. Lembro que em Amnésia ficava me perguntando como alguém que sofre de perda de memória recente sabe que tem esse problema. Porque não esquecia no minuto seguinte que lhe contavam isso. Aqui, não fiquei me perguntando nada. São duas horas e meia de ótimo entretenimento que passam antes que possa perceber.

PS: Dizem que a construção do sonho lembra a estrutura de fazer filmes. Saito seria o estúdio, que encomenda o produto e que supervisiona tudo. Arthur seria o produtor, responsável para que o resultado saia como o esperado. Cobb é o diretor, que comanda como será que o sonho se desenrolará. Ariadne é a contratada pelo roteiro enquanto Eames seria o ator e Yusulf o técnico de efeitos especiais. Numa parte mais exagerada, Fischer seria o público, que sente a experiência.

sábado, 14 de agosto de 2010

O SEGREDO DE SEUS OLHOS


NOTA: 10.
"Como você vive uma vida cheia de nada?" Ricardo Morales

Se no futebol nós temos mais motivos de orgulho, no cinema ainda ficamos muito atrás dos nossos hermanos. Com grande frequência, chegam aos cinemas um filme argentino que surpreende até mesmo ao mais crédulo do espectadores. E a bola da vez é este filme, merecidamente laureado com um Oscar de melhor filme em língua estrangeira. E também novamente um filme do diretor Campanella estrelado por Ricardo Darín.
Darín vive Benjamin Esposito, um investigador criminal aposentado. Ele vai encontrar Irene que atualmente é juíza. Quando ele estava na ativa e ela era apenas assistente, eles foram responsáveis pela investigação de um crime bárbaro: um estupro e espancamento seguido de assassinato. Benjamin lhe conta que pretende escrever um livro sobre o caso e assim o filme vai se desenvolvendo em Buenos Aires de 1974, época do crime e o presente que se passa nos anos 2000.
Benjamin e Irene tem um amor pelo outro nunca consolidado. Fica claro desde o primeiro instante essa atração mútua. Em uma das primeiras cenas, ele passa por uma mulher e faz uma brincadeira. Logo depois, quando é apresentado a Irene ele simplesmente não consegue dizer nada. Diante dela, ele fica sem palavras e nem uma brincadeira como a que ele disse antes sai de sua boca. Aquela mulher realmente o fascina. E remexer com aquela história do passado, é remoer todos esses sentimentos novamente.
Como assistente, Benjamin conta com um alcoolátra e amigo, Sandoval. Ele pode parecer muitas vezes incompetente, mas com certeza é de muita ajuda, apesar de dar muito trabalho. Se eles conseguem resolver o caso, grande parte da culpa é de Sandoval. Que ao final do filme também é responsável por uma das cenas mais emocionantes do filme. Não serve apenas de parte cômica, é realmente um personagem essencial.
Juan José Campanella, o diretor / escritor faz um filme competente e emocionante. Os personagens vão crescendo durante a história e nós vamos os acompanhando. As duas histórias, presente e passado, vão se aproximando do clímax juntas até a sua resolução. Os atores estão ótimos. Darín é sempre competente. Soledad, como Irene está ótima, e ambos conseguem representar muito bem as duas fases separadas por grande diferença de tempo. Muitos ficaram surpresos pela vitória deste filme no Oscar, já que A fita branca era a grande favorita, mas é difícil de dizer que tenha sido uma escolha errada. Eu só lamento por não ver filmes brasileiros assim.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

FILME MAIS ESPERADO DO MÊS: 5X FAVELA, AGORA POR NÓS MESMOS


No mês anterior, o filme apontado como o mais aguardado também era nacional: O bem amado, último filme de Guel Arraes. Esse mês a produção escolhida também é brasileira. Que fique bem claro que a escolha dos filmes não é para favorecer nosso cinema, basta simplesmente dar uma olhada na concorrência desse mês que verá porque a escolha acaba sendo tão óbvia.
Começando com as prováveis bombas (que fique claro que não assisti nenhum desses filmes, as opiniões são baseadas em trailers e comentários de seus lançamentos lá fora): Aprendiz de feiticeiro se reúne novamente com a equipe que realizou os (fraquíssimos) A lenda do tesouro perdido. Dessa vez, ele coloca uma peruca ridícula para ensinar truques de magia. Uma mera desculpa para exibição de efeitos especiais. O diretor, Jon Turteltab que fracassou todas as vezes que tentou fazer filmes sérios (Instinto, Fenômeno), aprendeu que ganha mais dinheiro fazendo filmes esquecíveis de ação.
Os mercenários é o novo filme de Stallone. Para segurar as cenas de ação, ele chamou praticamente todos os astros do gênero, que não por coincidência são mais novos que ele. Na lista estão Jason Statham (Adrelina, Carga explosiva), Jet Li (O beijo do dragão), Dolph Lundgreen (O soldado universal) e Randy Couture (campeão de Vale tudo). Conta ainda com as presenças especiais de Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e Michey Rourke. Um time muito grande de astros que (na grande maioria) não sabem atuar. Os trailers não me agradaram e contam com diálogos ridículos sobre como a única coisa mais rápida que Stallone é a luz e por aí vai. Sem contar na história que lembra (muito) Meu ódio será sua herança. Pra completar, Stallone agradeceu por filmar em nosso país, dizendo que pode-se explodir o que quiser, atirar em todo mundo e ainda dão um macaco para levar para casa, Ridículo.
O último mestre do ar é a última tentativa de Shyamalan fazer filmes. Depois de um começo promissor (O sexto sentido e Corpo fechado), o diretor colecionou fracassos. Filmes como Sinais e A vila ainda conseguiram fazer algum sucesso de bilheteria apesar de não conseguir agradar a crítica. Já os últimos lançamentos, Fim dos tempos e A dama na água conseguiram ser fracassos retumbantes, sendo o primeiro um dos piores filmes em muitos e muitos anos. Para tentar se recuperar, ele adapta um mangá com muitas lutas que podiam atrair a garotada. O resultado é que o filme rendeu apenas 129 milhões nas bilheterias (contra um orçamento de 150 milhões) e as piores críticas de uma carreira nada brilhante.
Para completar a lista temos a continuação de um filme de terror, [Rec 2] e crianças espancando umas as outras em Karate Kid, onde o menino sequer aprenderá a lutar Karatê. Filmes que parecem ainda mais mercenários que os anteriores, por incrível que pareça.
Contando esses filmes a escolha seria tão fácil que nem precisaria dizer porquê, mas tem um lançamento que faz frente: O refúgio. O filme é o último trabalho do diretor francês que já realizou os maravilhosos À beira da piscina, 8 mulheres e O tempo que resta. Um diretor muito regular que tem feito ótimos trabalhos, então pode-se ficar de olho em seus trabalhos também.
Mas por que não o nosso cinema? Principalmente por conta da proposta. Na década de 60, cinco cineastas (Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hiszman, Marcos Farias e Miguel Borges) se juntaram para fazer cinco filmes curtos. O projeto foi um marco do Cinema Novo. Agora, os curtas foram realizados por moradores das próprias favelas. Todos fizeram cursos de capacitação audiovisual para poderem contar histórias que conhecem tão bem. Só o projeto já é maravilhoso. Fica a dica.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O ESCRITOR FANTASMA




NOTA: 9.
"Eles não podem afogar dois fantasmas. Vocês não são como gato."Robert Rycart

O último filme de Roman Polanski fez um enorme alarde por conta da prisão do diretor. Ele foi preso por causa de uma condenação que ele tem nos EUA por ter se envolvido com uma menor de idade. Uma pena que o filme tenha tido esse tipo de publicidade e não pelo que realmente importa. E o que realmente importa é que o filme é um ótimo suspense bem à moda antiga como parece que apenas Polanski sabe fazer.
Ewan McGregor é o tal escritor fantasma do filme. Ele é contratado para escrever a versão final da biografia de um ex Primeiro Ministro Britânico, Adam Lang (Pierce Brosnan). O escritor da primeira vesão foi encontrado recentemente afogado em uma praia depois de cair de uma balsa. Uma morte misteriosa que envolve um livro que muita gente tem como uma possível bomba que pode abalar o mundo.
O clima do filme é muito bem construído. A cidade onde Lang vive é sombria e com um clima sempre chuvoso, o que ajuda a construir o mistério por trás do livro que o Fantasma tem que escrever. Os filmes de Polanski são baseados em mistérios e não em enlouquecidas cenas de ação, e é por isso que o filme ganha dos concorrentes da categoria. O diretor lembra, mesmo aos seus 76 anos de idade, a boa forma de O bebê de Rosemary e Chinatown.
Tão logo o Fantasma chega para escrever o livro, Lang é acusado pelo tribunal internacional de autorizar a tortura em campos de guerra. Essas e outras citações tão óbvias a Tony Blair traçam um interessante paralelo entre o real e o ficcional e tornam o filme ainda mais interessantes. Um belo esforço de Polanski com Thomas Harris, o escritor do livro que inspirou o filme.
Tudo no filme parece funcionar perfeitamente. Até mesmo McGregor, que não tem grande talento para escolher bons papéis ou roteiros, cai como uma luva no inteligente escritor sem nome que nunca deve ter assinado um livro com seu nome real. O diretor se dá até ao luxo de homenagear Hitchcock em uma cena próximo ao final do filme. Um mestre homenageando outro mestre. O cinema agradece.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CORAÇÃO LOUCO


NOTA: 9,5.
"Filho, eu já toquei bêbado, doente, divorciado e correndo. Bad Blake nunca perdeu um show em toda sua vida." Bad Blake

Depois de muitos anos de carreira, parece difícil de acreditar que Jeff Bridges nunca tenha recebido um Oscar até estrelar esse filme. Desde sua primeira grande aparição em A última sessão de cinema, Bridges sempre entregou personagens críveis e que agradam a platéia. Seja em blockbusters como King Kong e Tron (cuja continuação estreará esse ano) ou mesmo personagens inesquecíveis como Lebowski.
Aqui, Bridges é Bad Blake, um cantor de country que muitos (ênfase no muitos) anos atrás foi um dos grandes astros da música. Agora, depois de um longo tempo ingerindo quantidades abusivas de álcool e sem escrever nenhuma música nova, ele ganha seus meros trocados cantando em pequenos bares e até mesmo pistas de boliche. Basicamente, ele toca em lugares onde pessoas saudosas de antigas músicas possam curtir um outrora grande músico.
Em uma dessas pequenas cidades por onde passa, ele é entrevistado por Jean (Maggie Gyllenhaal) com que acaba tendo um caso. Claro que a relação dos dois não pode ser perfeita. Além da grande diferença de idade (25 anos), ela é mãe de uma criança e não pode se dar ao luxo de passar tanto tempo com um alcoólatra que nunca procurou o próprio filho. Ela sabe disso, mas ele é tão boa companhia que acaba vendo onde vai dar.
Para tentar voltar a ter algum sucesso, ele conta com a ajuda de Tommy Sweet (Colin Farrell). Essa é uma parte bem interessante do filme, ao invés de ser Blake que procura Sweet que pode desprezá-lo ou algo do gênero, a situação é totalmente inversa. Sweet aprendeu tudo o que sabe com Blake e diz para quem quiser ouvir. É ele quem procura Blake para shows e sempre reverencia seu antigo mestre. Blake é quem se mostra desconfotável com a situação.
Se a academia estava esperando um filme como esse para premiá-lo, não dá para dizer que foi injusto, mas ainda acho que foi realmente injustiçado por O grande Lebowski, que em minha humilde opinião é seu melhor papel. Ele mesmo deve ter gostado tanto que quase o repetiu em Os homens que encaravam as cabras. De qualquer forma, essa é mais uma atuação brilhante de Bridges aliada a uma boa história. Parabéns a ele. Se um Oscar era tudo que lhe faltava, agora não falta mais nada.
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